Luís Marques Mendes considera de uma “enorme originalidade” a preocupação demonstrada quer por António Pires de Lima, quer por Sérgio Monteiro, em relação ao futuro da TAP. Os dois têm vindo a terreiro alertar para os riscos de uma eventual anulação da privatização da TAP que, dizem, poderá estar nos horizontes dos socialistas, caso vençam as eleições. Ora, para o antigo líder do PSD, isso significa que o Governo está a admitir que o PS vai ganhar as próximas legislativas.

O ministro da Economia e o secretário de Estado [dos Transportes] são uns pândegos. Nunca vi um membro do Governo, no fundo, a admitir na praça pública que António Costa vai ganhar as eleições. Isto é uma originalidade”, afirmou Marques Mendes este sábado no seu habitual espaço de comentário na SIC.

Na hora de explicar sua tese, Marques Mendes socorreu-se de uma expressão celebrizada por Passos Coelho: a “ideia de que o PS vai anular o negócio é mentira. São contos de crianças“. Até porque, continuou, “António Costa não vai querer nunca enfrentar e afrontar Humberto Pedrosa, que é um empresário português de grande prestígio” e, sobretudo, porque o secretário-geral do PS “não vai querer ficar com o problema [da TAP] nas mãos”.

Então, o que vai fazer Costa? Vai tentar baixar para 49% a percentagem do capital nas mãos dos novos acionistas e, como não vai conseguir fazê-lo, “vai dizer ao país: ‘eu fiz o que podia'”, respondeu o social-democrata. Nessa linha, o comentador diz não perceber por que motivo “estão todos muitos preocupados com António Costa”. “São uns pândegos”, repetiu.

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Caso Sócrates é “um problema enorme para António Costa”

Marques Mendes falou ainda dos mais recentes desenvolvimentos do caso José Sócrates. Para o social-democrata, a detenção e prisão preventiva do ex-primeiro-ministro está a criar algum embaraço ao PS e José Sócrates está-se a tornar uma pedra no sapato de António Costa.

“José Sócrates é um incómodo para o PS. Isto toda a gente vê. Incluindo dentro do PS. Por duas razões: sempre que Sócrates é protagonista, o PS é abafado. [Além disso], justa e injustamente uma parte das pessoas já condenou José Sócrates”, apontou.

O comentador acredita também que a relação entre José Sócrates e António Costa está mais fria porque o agora secretário-geral do PS não defende publicamente o seu camarada de partido. E isso pode ser um problema. “José Sócrates gosta de ter protagonismo, gosta de ser notícia; Costa, ao contrário, percebe que isso lhe cria ruído e gostava que ele estivesse silencioso”, começou por explicar Marques Mendes.

Mas há mais. “José Sócrates está muito maldisposto com António Costa” porque gostava que o PS o defendesse como fez com “Paulo Pedroso há uns anos atrás”; Costa, ao contrário, não está para aí virado e faz questão de separar as águas – à política o que é da política, à justiça o que é da justiça.

Além disso, defendeu o antigo ministro-adjunto de Cavaco Silva, Sócrates e Costa discordam no detalhe fundamental: o ex-primeiro-ministro vê-se como “um preso político”, o secretário-geral socialista, ao contrário, vê-o como “um político preso”.

E, por isso, há uma pergunta que se tem repetido nos corredores socialistas, diz Marques Mendes: “o que vai acontecer em setembro?”. Nessa altura, em vésperas de eleições, a medida de coação de José Sócrates vai ser revista e os socialistas temem que a sede de protagonismo do animal feroz venha baralhar as contas e complicar a vida ao PS. “O PS está obviamente preocupado. Acho que nenhum político gostava de estar no lugar de António Costa”, disse Marques Mendes.