Os líderes mundiais “estão a condenar milhões de refugiados a uma vida insuportável e milhares à morte” por estarem a falhar a assistência e a proteção humanitária essencial, sustenta a Amnistia Internacional. De acordo com o relatório sobre a crise mundial de refugiados, apresentando em Beirute esta segunda-feira, em antecipação ao Dia Mundial do Refugiado, vive-se a mais grave crise de refugiados desde a II Guerra Mundial.

“Estamos a testemunhar a maior crise mundial de refugiados da nossa era, com milhões de mulheres, homens e crianças a batalharem para sobreviverem no meio de guerras brutais, às mãos de redes de traficantes de pessoas e de governos que seguem os seus egoístas interesses políticos em vez de mostrarem a mais básica compaixão humana”, criticou o secretário-geral da Amnistia Internacional (AI), Salil Shetty.

A crise de refugiados é um dos desafios que definem o século XXI, mas a resposta da comunidade internacional tem sido um falhanço vergonhoso. E precisamos de uma revisão radical das políticas e das práticas para criar uma estratégia global coerente e abrangente”, acrescentou.

O Dia Mundial do Refugiado assinala-se este sábado, 20 de junho. A Organização Não Governamental lembra que há um milhão de refugiados “em necessidade desesperada de reinstalação” e quatro milhões de refugiados sírios a lutar “para sobreviver na Turquia, no Líbano, na Jordânia, no Iraque e no Egito”. Os cinco países estão a enfrentar dificuldades para lidar com este afluxo. Alguns estão a recusar receber mais refugiados, que têm de permanecer em zonas de combate.

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“A comunidade internacional tem falhado redondamente em prestar-lhes recursos suficientes, ou às agências humanitárias que apoiam os refugiados. Apesar dos muitos apelos feitos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), poucas foram as vagas de reinstalação oferecidas aos refugiados sírios”, pode ler-se no relatório. No ano passado, Portugal recebeu 15 refugiados sírios.

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©DARRIN ZAMMIT LUPI/MOAS.EU / HANDOUT/EPA

O Mediterrâneo: a mais perigosa rota marítima

Há também mais de três milhões de refugiados na África subsariana “dos quais apenas uma pequena fração recebeu reinstalação desde 2013”. A AI refere também as 3.500 pessoas que se afogaram “na tentativa de atravessarem o mar Mediterrâneo em 2014 e as 1.865 até agora, em 2015. Em 2014, 219 mil pessoas fizeram esta travessia em condições “extremamente arriscadas”. As autoridades italianas salvaram mais de 166 mil pessoas das águas do mar. Os emigrantes tentam atravessar o Mediterrâneo na esperança de chegar à União Europeia e encontrar melhores condições de vida, mas cada viagem feita é um risco para as vidas dos passageiros.

“Depois de vários casos horríveis de perda de vidas no mar Mediterrâneo, nos finais de abril passado, os líderes europeus finalmente acordaram em aumentar os recursos para as operações de busca e salvamento”, lembra a Amnistia. Tanto os recursos como a área de operacionalidade da operação “Tritão” foram alargados.

Amnistia Internacional propõe medidas

A Amnistia Internacional apresenta propostas para que a situação dos refugiados seja melhorada. Entre elas está:

  • A “criação de um fundo global para os refugiados que dê resposta a todos os apelos humanitários das Nações Unidas em relação às crises de refugiados, e a prestação de apoio financeiro aos países que acolhem elevados números de refugiados”;
  • A ratificação global da Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados;
  • O desenvolvimento de sistemas nacionais “justos de avaliação dos requerimentos do estatuto de refugiado e que garantam que os refugiados têm acesso a serviços essenciais como a educação e os cuidados de saúde”.