Dizem que a perfeição é como ver um cão a perseguir a própria cauda. Por mais rodopios e voltas que dê sobre si próprio, nunca a conseguirá agarrar com a boca. Mas, por ser viciado na busca da perfeição, ou da cauda, vai tentando e insistindo até o cansaço lhe levar a melhor e o obrigar a parar um pouco. No surf a história é outra, desde que alguém se lembrou de avaliar aos pontos o que se faz para cortar as ondas com uma prancha. Da pontuação chegou-se a uma escala (de zero a 10) e, definida essa escala, passou-se a conseguir tocar na perfeição. Agora perguntem a Owen Wright qual é a sensação.

Ele terá muito a dizer sobre o assunto, já que, estabelecido o máximo ao qual os pontos podem chegar, o grande (1,91m) e loiro australiano lá chegou duas vezes. Uma delas foi na final da quinta etapa do circuito mundial de surf, nas Ilhas Fiji. Nos 35 minutos que Owen Wright e Julian Wilson, outro surfista da land down under, tiveram para surfar, o primeiro conseguiu apanhar duas ondas que deixaram os cinco juízes boquiabertos e com vontade de lhe darem 10 pontos. Foi o que fizeram. E, assim, Wright terminou a final com um máximo de 20 pontos.

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Uma proeza que não era nada fácil de conseguir. Muito menos no mar de Tavarua, uma das ilhas nas Fiji, que deu ondas com mais de três metros, a quebrarem para a esquerda e a convidarem os surfistas a esconderem-se dentro de tubos. “Algo de especial estava a acontecer lá fora. Estava a adorar. Terminar com um par de 10 foi um concretizar de um sonho”, revelou Owen, já com o troféu nas mãos e com uns milhares de pontos amealhados que o fizeram saltar para o terceiro lugar do ranking da World Surf League.

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Só isso já é bom, mas o ótimo está na tal história das ondas com nota 10. Owen Wright foi apenas o sétimo surfista na história a conseguir terminar um heat — uma sessão em que dois ou mais surfistas competem entre si — com a pontuação máxima. Mas o australiano decidiu fazer mais do que uma proeza e puxou ainda mais por esta façanha: repetiu-a. Antes da final, Owen já tinha terminado o seu heat da quinta ronda com nota 20. Algo tão raro que apenas Kelly Slater, o quarentão e 11 vezes campeão do mundo, e Joel Parkinson, vencedor do circuito em 2012, tinham outrora conseguido.

A perfeição, quando lhe colocam limites e pontos, é possível. Não é fácil chegar-lhe, muito menos quando se tenta manter o equilíbrio em cima de uma prancha enquanto se desliza sobre uma onda. Mas Owen Wright conseguiu-o, duas vezes. Agora os 36 melhores surfistas do mundo seguem para a África do Sul, onde a partir de 9 de julho voltam a vestir os fatos (sim, a água lá é fria) para se atirarem às ondas de Jeffrey’s Bay, perto da Cidade do Cabo.

O australiano para lá seguirá no pódio do ranking, apenas atrás de Filipe Toledo, o brasileiro que adora voar e inventar aéreos, e Adriano de Souza, um dos trintões do circuito. Com eles não irão as senhoras, que também estiveram nas Fiji, mas que agora apenas se voltam a encontrar com os homens em setembro, quando os dois circuitos coincidirem em Trestles, nos EUA. A etapa feminina em Tavarua, aliás, já tinha terminado há uns dias, com a vitória a ficar com Sally Fitzgibbons, a também australiana que imitou Owen Wright nos abanões que causou na classificação — com a vitória, a surfista também galgou uns lugares para chegar ao terceiro posto.

Só faltou conseguir uma coisa — o tal 10. Ou melhor, dois, para chegar ao 20 perfeito.