Viticultores e dirigentes associativos fecharam hoje a cadeado a porta da sede da Casa do Douro (CD), na Régua, para simbolicamente impedirem a entrada da nova gestão privada da instituição representativa da lavoura duriense.

Em frente ao edifício histórico da CD, no Peso da Régua, distrito de Vila Real, juntaram-se esta manhã cerca de uma centena de produtores e dirigentes da Associação dos Vitivinicultores Independentes do Douro (Avidouro), que organizou o protesto.

Alguns dos manifestantes empunharam uma faixa em que se podia ler “A força dos viticultores é o futuro do Douro. Não ao roubo da Casa do Douro” e ainda cartazes com a mensagem “A Casa do Douro é nossa e é nosso o património. Conquista que custou muito à lavoura duriense”.

Depois, foi colocada uma faixa negra na estátua de Antão Fernandes de Carvalho, um dos paladinos do Douro, que apelava à “unidade de todos os durienses” e, por fim, as portas do edifício foram fechadas com correntes e um cadeado.

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“É um ato simbólico, queremos dizer alto e bom som que só vai entrar aqui na nossa CD quem efetivamente representa os vitivinicultores durienses, as mais de 35 mil famílias que estão aqui na Região Demarcada do Douro”, afirmou a dirigente da Avidouro, Berta Santos.

No final de maio, o Ministério da Agricultura e do Mar designou a Federação Renovação Douro (FRD) como a associação de direito privado que sucede à associação pública da CD, depois de um concurso ao qual foram submetidas duas candidaturas, a da FRD e a da Associação da Lavoura Duriense (ALD).

A Avidouro, associada da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), apoiou a candidatura da ADL e saiu hoje à rua em protesto contra a escolha da Federação, a qual acusa de estar ligada à Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).

Berta Santos salientou que a Federação “apenas representa quatro os cinco grandes grupos que operam na região, o grande comércio e a CAP “.

“No concurso foi-lhes atribuído 28% de representação dos viticultores. Por isso não representam os milhares de pequenos e médios viticultores que trabalham aqui com o seu suor e lágrimas e todos os dias de sol a sol estão a fazer este vinho único no mundo”, sublinhou a dirigente.

José António Martins disse estar revoltado com a “política do Governo” e a “má conduta” para com a CD e aproveitou para denunciar um processo “feito à socapa” que “começou mal, que está viciado” e que entregou a “casa de todos” a uma Federação que “não representa os pequenos e médios viticultores”.

Manuel Figueiredo juntou-se ao protesto para defender também aquilo que disse ser o património dos lavradores do Douro e alertar para a entrega da CD a uma Federação que considerou que representa “apenas os grande interesses económicos”

Este viticultor queixou-se ainda da vida cada “vez mais difícil” no Douro, onde o vinho é vendido a preços “muito reduzidos” que nem “dão para pagar os custos de produção”.

Por isso mesmo, os produtores aproveitaram para pedir também um aumento do benefício nesta vindima, ou seja, um aumento da quantidade de vinho de Porto que cada um pode produzir.

“Eu estou aqui porque de caminho não tenho dinheiro para comer. Cortaram-nos o benefício e pagam-nos as uvas a um preço de miséria e a gente não tem dinheiro”, acrescentou António Bastardo.

Este produtor queria ver de volta a “antiga Casa do Douro” com os poderes que tinha há 20 anos e que defendia “verdadeiramente” os interesses dos lavradores.