Há vários anos que se faz investigação no sentido de perceber se existem substitutos para o sangue na missão de transportar o oxigénio até às células, diz ao Observador Hélder Trindade, presidente do Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST). Por isso é com agrado que recebe as notícias vindas do Reino Unido sobre os ensaios clínicos com sangue produzido em laboratório.

As células estaminais – células imaturas que têm o potencial de se diferenciar nas restantes células do organismo – são recolhidas no cordão umbilical do recém-nascido ou num indivíduo adulto e, durante cerca de três semanas, são manipuladas em laboratório para se diferenciarem em glóbulos vermelhos – as células do sangue que transportam o oxigénio -, noticia o International Business Times. Cada célula estaminal pode originar dez mil glóbulos vermelhos.

“Fisiologicamente, esta é a melhor aproximação”, nota Hélder Trindade, comparando com outras linhas de investigação que procuravam identificar moléculas que pudessem fazer este transporte de oxigénio. O presidente do IPST refere que as moléculas isoladas não têm tido resultados tão bons, porque ou têm uma má capacidade de transporte do oxigénio ou provocam problemas renais devido à acumulação das moléculas. O New Scientist refere, no entanto, que uma molécula baseada na hemoglobina bovina foi aprovada para uso em humanos na África do Sul em 2001 e está em ensaios clínicos nos Estados Unidos.

Apesar de se mostrar satisfeito com a proximidade dos ensaios clínicos, Hélder Trindade lembra que o sangue produzido em laboratório “não se destina a substituir a doação normal de sangue” e que este sangue será usado em “aplicações muito específicas”, como doentes que precisam de transfusões de sangue frequentes. Alguns deles precisam de três transfusões por semana, refere o Daily Mail.

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Os ensaios clínicos anunciados pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido terão início em 2017. Vão ser realizados em voluntários saudáveis e usar apenas 5 a 10 mililitros de sangue fabricado em laboratório, noticia o Daily Mail.

Ainda este mês, o NHS tinha divulgado uma quebra de 40% do número de dadores em 2014-2015 quando comparado com dados de 2004-2005. As autoridades preveem que sejam necessários 204 mil novos dadores voluntários para suprir as necessidades do país e assegurar os stocks para o futuro.

Em Portugal, a situação não é tão dramática. Apesar de, entre janeiro e 12 de junho de 2015, o número de unidades de sangue colhidas pelo IPST (87.927) ter diminuído em relação aos períodos homólogos de 2013 (100.336) e 2014 (99.915), ainda não houve necessidade de adiar cirurgias ou recorrer à importação. Embora as necessidades de sangue sejam sazonais (maiores no início do ano) e as doações também (com uma quebra nos períodos de verão), as recolhas realizadas pelo IPST e pelos vários hospitais habilitados para o efeito têm sido suficientes.

Mais informações sobre a doação de sangue na página do Instituto Nacional do Sangue e da Transplantação.