Primeiro a cirurgia aberta, depois a laparoscopia e agora a cirurgia robótica. É na medicina que a aliança entre homem e tecnologia é mais evidente e esperada, porque daí resultam intervenções mais simples e rápidas com vantagens a todos os níveis. No caso da cirurgia, em procedimentos menos invasivos, mais precisos e que proporcionam uma recuperação mais rápida no pós-operatório. Estes são alguns dos fatores evidenciados pela cirurgia robótica, em comparação com a técnica laparoscópica e, antes dela, com a cirurgia aberta. Mas vamos desmontar este palavreado técnico e explicar quais as vantagens de ter um cirurgião a operar através de um robô.

No final da semana passada decorreu, no Hospital da Luz em Lisboa, a primeira edição do Rectal Cancer Meeting, um congresso internacional que reuniu os melhores especialistas do mundo no tratamento do cancro colorretal. Uma das sessões desta reunião foi precisamente uma cirurgia robótica, transmitida e comentada em direto para o anfiteatro, a partir de onde os participantes puderam colocar questões e esclarecer dúvidas sobre o procedimento.

O Observador foi convidado a vestir a bata e entrar no bloco operatório. Acompanhámos os cirurgiões-gerais Carlos Vaz do Hospital da Luz e Seon-Han Kim, do Hospital Universitário da Coreia do Sul, o maior especialista mundial em cirurgia robótica do cancro do reto. No vídeo que se segue, explicam as vantagens do procedimento e como é que funciona o da Vinci. Chamamos a atenção para o facto de, por que se trata de uma cirurgia, algumas imagens poderem ser consideradas incómodas.

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Maior rapidez e precisão, recuperação mais rápida e com menos sequelas. O menor número de incisões significa uma redução das hipóteses de infeções no pós-operatório, cicatrizes mais pequenas e menos tempo de internamento. É também mais reduzida a destruição dos tecidos adjacentes à zona operada (um tumor colorretal, no caso), porque o poder da ampliação visual a três dimensões permite ao médico ver o que antes era difícil se não impossível, pequenas estruturas e nervos responsáveis pelo controlo de funções importantes como a continência (urinária e fecal) e a potência sexual masculina. Em muitas situações, também permite evitar a ostomização (colocação de saco abdominal).

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A cirurgia robótica é uma técnica que além das vantagens já descritas oferece ainda uma outra, viável num futuro próximo: a possibilidade de operar à distância. E não nos referimos aos três ou quatro metros que separam esta consola onde está sentado o Professor Seon-Han Kim e a mesa de operação propriamente dita, mas a centenas ou milhares de quilómetros. Imagine o cirurgião principal a executar este procedimento, sentado no seu gabinete no Hospital Universitário da Coreia do Sul. E o paciente, num bloco operatório noutra ponta do mundo, auxiliado por um segundo cirurgião. Este cenário só ainda não é possível porque a velocidade atual das ligações de internet ainda não permite tempos de resposta imediatos, ou seja, entre um movimento na consola e a operação mecânica do braço robótico, meio segundo faz toda a diferença.

Mas o sistema da Vinci aponta nessa direção e será cada vez mais rápido e menos invasivo. Em vez de quatro braços robóticos, a futura versão desta máquina só vai utilizar um, o que significa a necessidade de apenas uma abertura no paciente. Através desse braço sairão os demais componentes, mal comparado é como se se tratasse de um “polvo”. Para o doente, isso representa uma grande cirurgia que deixa apenas uma pequena cicatriz — ou nenhuma, se a porta de entrada for o umbigo. Em nada se compara com a grande costura da cirurgia aberta.

O Hospital da Luz é pioneiro na introdução da cirurgia robótica em Portugal. O da Vinci é um instrumento complexo, requer formação especializada mas é apenas uma de muitas ferramentas do centro de oncologia. É utilizado na cirurgia hepático biliar, colorretal, pancreática, prostática e urológica, por exemplo.

O cirurgião Carlos Vaz explicou-nos que o serviço nacional de saúde ainda não investiu nesta tecnologia mas que a comparticipação das companhias seguradoras já está a ser negociada e, nalgumas intervenções, já é financiada, nomeadamente na cirurgia da próstata e colorretal. Esclareceu-nos que o preço varia de acordo com a especialidade e com o sistema segurador, daí que o valor global seja variável, mas que anda em torno dos 12 mil euros. E quanto custa o da Vinci? Entre um milhão e meio e dois milhões de euros, seguramente muito menos que o valor (subjetivo) da qualidade de vida das pessoas com doenças cancerígenas.

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