Unidos na crítica feroz às sondagens. Pedro Santana Lopes, atual Provedor da Santa Casa de Lisboa e ex-primeiro-ministro, e Paulo Portas, vice-primeiro-ministro e líder do CDS, consideram no livro “Insondáveis sondagens” que as sondagens sem escrutínio que são feitas em Portugal são uma “perversão” da democracia.

Um assina o prefácio do livro que é lançado na segunda-feira, o outro assina o posfácio. Mas os dois assumem-se como vítimas destes estudos de opinião. “Posso dizer com rigor que nunca nenhuma sondagem me favoreceu e que, pelo contrário, sempre tive de lutar contra as sondagens”, escreve o ex-primeiro-ministro, considerando que as sondagens em Portugal não têm “o devido escrutínio” e “o trabalho que desenvolvem não tem nada de científico”.

“Tornaram-se quase armas de destruição política”, prossegue Santana, considerando que são uma das várias “perversões do funcionamento das democracias”.

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Paulo Portas, que já dirigiu um centro de sondagens da Universidade Moderna (a Amostra), considera que as sondagens e os seus erros “não podem ser vistos como uma coisa menor” pois “influenciam uma escolha democrática”. E faz várias sugestões para o futuro: “os inquéritos teriam de ser mais longos, para tentar despistar o erro; o voto oculto teria de ser estudado, e mudadas as freguesias-tipo por quem utiliza este método; a supervisão dentro da empresa teria de ser mais robusta para a validação das amostras; é necessário maior cuidado com a base da amostra, para não ser exclusivamente quem está em casa – e em 2015 ainda com telefone fixo – a representar o universo; e teria de existir uma real regulação do mercado”.

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Portas considera que o CDS tem sido vítima do chamado “voto oculto”, ou seja, os eleitores deste partido não assumem nas sondagens que votam no partido. E que em relação a um partido pequeno uma variação de dois pontos percentuais, que deriva dos métodos de distribuição dos indecisos, tem muito peso. O líder do CDS dá três exemplos em que o partido foi prejudicado. Nas europeias de 2009, houve sondagens a dar ao CDS 5% quando acabou por ter 8,4%. Nas legislativas de 2011, era dado empate PS-PSD para um “claro apelo ao voto útil” e os dois partidos acabaram por ficar com mais de 10 pontos de diferença. Nas regionais da Madeira em 2015, contra todas as previsões, manteve-se como o segundo partido mais votado.

“O mais extraordinário, nesta questão, é que, aparentemente, o erro acaba por não ter consequências”, escreve. Apesar de tudo, o líder partidário termina com “um desconto”. “Quem vive para as sondagens arrisca-se na política a falar para as sondagens. E, assim, retirar autenticidade à política”.

O CDS ainda ponderou apresentar uma alteração legislativa para proibir a publicação de sondagens em tempo de campanha eleitoral mas foi travado pelo PSD.

O livro, escrito por Diogo Agostinho e Alexandre Guerra, surgiu de uma ideia do próprio Santana, com quem os dois autores trabalham. Foi por falta de tempo, conta, que o atual provedor da Santa Casa não pôs mãos à obra. E conta também que não se importou com quem achou que esta preocupação tem a ver com o facto de as últimas sondagens não lhe darem grande vantagem na corrida às eleições presidenciais.

No livro, vários especialistas em sondagens como Pedro Magalhães, José Vidal Oliveira ou Rui Oliveira e Costa admitem a necessidade de melhorias nos métodos usados.