A máquina já mostra os sinais da passagem dos anos, mas ainda se vai aguentando, apesar da necessidade de reparar um circuito aqui, de ajeitar um joelho ou um cotovelo ali; e dos cabelos brancos e da degradação da pele serem inevitáveis, já que a epiderme dos andróides modelo T mais antigos é feita de células humanas, e estas envelhecem.

Ou seja, quatro filmes após a estreia do original de 1984, realizado por James Cameron, o Exterminador de Arnold Schwarzenegger, que deu ao cinema de ficção científica, e ao actor, uma das suas personagens mais carismáticas e duradouras, está “velho mas não obsoleto”, como ele próprio repete em “Exterminador: Genisys”, de Alan Taylor. Mas se o bom velho Exterminador ainda aguenta uns combates com um modelo mais recente e sofisticado, a série já se esgotou, minerada até à exaustão e reduzida à rotina do baralha-e-volta-a-dar em que patinham os “blockbusters” de Hollywood. Uma rotina que nem o investimento maciço no departamento dos efeitos digitais, nem o recurso ao 3D conseguem mascarar.

“Trailer” de “Exterminador: Genisys”

Bem pode “Exterminador: Gensiys” invocar que teve a bênção de James Cameron, o autor dos dois primeiros filmes da série, que disse que esta quinta aventura era a verdadeira continuação destes. E bem pode tentar agradar a dois tipos de espectadores muito diferentes, os que viram “O Exterminador Implacável” e “Exterminador Implacável 2: o Dia do Julgamento” quando se estrearam, e os contam entre os filmes da sua geração; e os mais jovens, que se alimentam exclusivamente de filmes de super-heróis da Marvel e não cresceram tendo Arnold Schwarzenegger como referente do herói de acção.

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Faça o que fizer, namore que tipos de público namorar, “Exterminador: Genisys” não passa de um filme de juntar por números, pertencente a uma “franchise” que já deu o que tinha a dar e não consegue ter a capacidade de regeneração das máquinas que a povoam – nem sequer a resistência do modelo de andróide representado por Arnie.

Entrevista com Arnold Schwarzenegger

A história é uma jiga-joga laboriosa, confusíssima e levada ao absurdo de linhas temporais alternativas e paradoxos do espaço-tempo, em que os argumentistas multiplicam desesperadamente as piscadelas de olho e as citações dos dois filmes realizados por James Cameron. John Reese, o jovem lugar-tenente de John Connor, viaja do futuro até 1984, ano em que se passa a fita original, para proteger a sua mãe, Sarah Connor. Mas quando lá chega, compreende que não se encontra nessa linha temporal, mas numa outra onde os dados são diferentes e o Exterminador se tornou no “pai” artificial e substituto de uma Sarah jovem (Emilia Clarke, de “A Guerra dos Tronos” e cheia de uma genica autêntica que falta ao filme).

James Cameron fala sobre o filme

O filme até aposta na multiplicação do Exterminador de Schwarzenegger, que vemos nas suas encarnações de 1984 e 1991, rejuvenescido por computador e usando o corpo de um actor “bodybuilder”; no seu “actual” estado, revelando os quase 70 anos de Arnie; e ainda em 1973, quando salva uma Sarah Connor ainda menina.

Só que é tudo inútil, da quadruplicação do Exterminador à espectacularidade repetitiva e entorpecente das sequências de acção e de destruição maciça. Até mesmo a “denúncia” da nossa sociedade obsessivamente “online” (o projecto Genisys do título, que se propõe ligar telemóveis, computadores e iPads a nível mundial numa só rede, esconde a activação do Skynet que vai desencadear o Dia do Julgamento nuclear e o advento das máquinas) soa oca. Ainda não é aqui que Arnie vai conseguir fazer “reboot” à sua carreira no cinema, retomada após o abandono da vida política.

Nos bastidores das filmagens

Sinal dos tempos: o Exterminador 1000 polimorfo que persegue os heróis de “Exterminador: Genisys” para os matar, já não é interpretado nem por um actor conotado com papéis de vilão, como sucedia com Robert Patrick em “Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento”, nem por uma modelo com mais curvas do que uma estrada de montanha, como Kristanna Loken em “Exterminador Implacável 3: Ascensão das Máquinas”, de Jonathan Mostow. Considerando que o mercado asiático é hoje fundamental para as receitas dos estúdios de Hollywood, quem veste agora a figura do imperturbável T-1000 assassino é Byung-hun Lee, estrela do cinema da Coreia do Sul…