Quando Filipe Santos Costa concorreu à delegação da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AIECP) em Xangai, no final de 2010, nunca imaginou que iria ver a China tornar-se um dos principais parceiros económicos do país.

“Ninguém previa que a China aparecesse, de repente, como um dos maiores investidores em Portugal”, diz Santos Costa após uma missão de mais de quatro anos na “capital económica e comercial da China”.

O fenómeno coincide com o início da internacionalização das empresas chinesas incentivada pelo governo da China sob o lema “go global”, mas segundo Santos Costa, “é também muito mérito da capacidade de atração da economia portuguesa e do trabalho das nossas instituições”.

Desde que a China Three Gorges ganhou o concurso para a privatização de 21.35% do capital da EDP (Energias de Portugal), em dezembro de 2011, o volume de capital chinês investido em Portugal já atingiu cerca de 10.000 milhões de euros.

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Entre os três candidatos à compra do Novo Banco, operação que deverá estar concluída este mês, há dois grupos chineses (Anbang e Fosun), confirmando Portugal como um dos principais destinos do investimento chinês na Europa, a seguir ao Reino Unido, França, Alemanha e Itália.

Criada em 2005, a AICEP-Xangai é a mais nova das três delegações da agência na China, depois de Macau e Pequim.

Nos últimos três anos, as exportações portuguesas para a China mais do que duplicaram, ultrapassando os 1.600 milhões de dólares em 2014.

O setor automóvel, com destaque para os veículos fabricados na Auto-Europa, em Palmela, e as “matérias-primas e processadas”, nomeadamente cobre, cortiça, mármore e plásticos, representam quase dois terços daquele valor, mas os têxteis e vestuário, calçado, mobiliário, vinho e agroalimentar estão a crescer acima dos dois dígitos.

“Há aqui muitas oportunidades para as nossas empresas”, disse Santos Costa a propósito da “rápida progressão dos rendimentos e dos hábitos de consumo” em curso na China.

“A mão-de-obra barata era uma das suas vantagens competitivas, mas a enorme apreciação dos salários está a transformar a China num importante país de consumo. É bom para a China e é bom para o mundo”, acrescentou.

Santos Costa reconhece que se trata de “um mercado difícil, fisicamente distante”, com “barreiras técnicas e alfandegárias”, e que “exige esforço, investimento e tempo”, mas – garante – “é um mercado que funciona”.

“É aqui, e na Ásia em geral, que temos grandes aumentos de rendimentos, grandes taxas de urbanização e um crescente acesso das populações ao consumo”, realçou.

Mestre em economia pelo Instituto de Economia e Gestão de Lisboa, nascido em 1973, Filipe Santos Costa chegou a Xangai em março de 2011: “Já esperava encontrar uma mega-cidade, mas rapidamente percebi que era uma das capitais económicas e comerciais do mundo”.

“É uma metrópole fascinante, muito moderna e cosmopolita, disse.

Sede de um município com cerca de 25 milhões de habitantes e uma área pouco maior que o Algarve, Xangai é a cidade mais próspera da China, com um Produto Interno Bruto per capita estimado em 15.000 dólares – mais de o dobro da média do país.

Filipe Santos Costa segue esta semana para os Estados Unidos, onde vai abrir a primeira delegação da AICEP em S. Francisco, Califórnia.

O seu sucessor em Xangai é o economista Pedro Aires de Abreu, que já dirigiu os escritórios da agência em Barcelona, Madrid e Viena.

Depois de mais de quatro anos na segunda economia mundial, Santos Costa vai trabalhar na maior economia do planeta e numa região conhecida como o “berço da nova economia”, mas mantém-se sóbrio: “Na China ou nos Estados Unidos, o meu papel é promover a economia portuguesa”.