Uma coisa é certa: as capas dos jornais americanos não vão ter espaço para a Grécia nem para Tsipras. Vão ter uma mulher, Carli Lloyd, que é futebolista e que ontem foi a melhor atleta numa final de campeonato do mundo de futebol. O jogo da madrugada foi, como quase todos nesta fase final, excitante e muito bem jogado. Foi, também, um hino ao futebol de ataque, bem expresso no resultado: 5-2.

Tudo começou de forma avassaladora. As americanas marcaram aos 2 e aos 4 minutos, de canto e de livre, mostrando a perícia com que ensaiaram os lances de laboratório. Carla Lloyd finalizou das duas vezes, exibindo um faro de golo e uma capacidade técnica muito acima da média do torneio. Aos 13 minutos, uma bola mal aliviada na área do Japão sobra para Holiday, que não hesita em colocar a bola no fundo da baliza do Japão. O descalabro da defesa japonesa era chocante, mas piorou dois minutos depois: Lloyd completou o hat-trick com um golo literalmente do meio da rua, uma obra-prima que fica na memória e no topo da lista dos golos em todos os mundiais. Nem vale a pena explicar, é melhor ver:

a sério, vale a pena ver outra vez, de outro ângulo:

Aos 27 minutos as japonesas acordaram finalmente do torpor. Um bom cruzamento, uma finta de corpo e Ogimi enfia a bola na baliza. 4-1 para o Japão e a inversão completa do domínio em campo. As nipónicas passam a controlar o jogo e mostram porque mantinham ainda o título de campeãs conquistado há quatro anos. Até ao intervalo podiam ter marcado por mais duas vezes, mas só conseguiram voltar a agitar as redes americanas aos 52 minutos, num autogolo da defesa Johnson.

4-2. Jogo relançado? Nada disso. Num minuto as americanas repuseram a vantagem, com mais um canto estudado e mais uma bola muito bem aproveitada. Desta vez foi Heat que concluiu. Apesar do golo as americanas tremeram e não conseguiram manter o controlo do jogo, cedendo às japonesas que mesmo assim já não tiveram forças para marcar. Ao fim de dez minutos percebeu-se que a coisa caminhava para o fim sem mais mudanças, foi isso que aconteceu: Carli Lloyd foi a melhor marcadora do torneio e a melhor jogadora, as americanas conquistaram o título que lhes fugiu há quatro anos na disputa precisamente com as japonesas.

Quem tenha visto primeiro a final da Copa América, no sábado, e depois esta final do campeonato do mundo terá deixado de ter dúvidas sobre o valor do futebol feminino. Imensamente mais bem jogado, com grande mais-valia técnica, muito menos paragens e mais ritmo. Basta dizer que o jogo EUA-Japão teve 24 faltas (e apenas um amarelo) enquanto o Chile-Argentina teve 49 (e sete cartões amarelos). Foi a terceira vitória americana num campeonato do mundo, confirmando uma qualidade que se deverá repetir nos Jogos Olímpicos de 2016. O senhor Blatter, que está na mão da justiça americana e se notabilizou por menorizar o futebol feminino à frente da FIFA, deve ter odiado este resultado.

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