Que as grandes erupções vulcânicas provocam alterações climáticas, já se sabia. Difícil era quantificar com precisão o alcance das consequências. Um estudo publicado na revista Nature prova agora que 15 dos 16 verões mais frios entre 500 a.C. e 1000 d.C. aconteceram depois de grandes fenómenos vulcânicos.

A revelação vem do gelo. Os mantos de gelo formam-se gradualmente, quando sucessivas camadas de neve se depositam sobre as mais antigas e ali ficam, congeladas. Como os cristais de gelo guardam resíduos do ar, permitem conhecer os mais variados acontecimentos do passado, ainda que com uma discrepância de entre cinco e dez anos. Os anéis das árvores também contêm dados importantes.

Neste caso, após terem conseguido corrigir o desfasamento, os cientistas analisaram 20 núcleos de gelo individuais, retirados da Gronelândia e da Antártida, e puderam relacionar os verões mais frios com as grandes erupções dos últimos 2.500 anos. E concluíram que quatro dos verões mais frios de sempre ocorreram pouco depois de quatro dos maiores fenómenos vulcânicos documentados, pode ler-se na Nature.

Os novos estudos permitiram à equipa liderada por Michael Sigl, do Desert Research Institute, em Reno, nos Estados Unidos, esclarecer dúvidas antigas sobre a origem e as consequências de alterações anormais do clima. É o caso do ano 536 d.C., quando foi avistada na Europa do sul uma nuvem escura que provocou temperaturas negativas que se prolongaram durante cerca de um ano e meio.

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E é aqui que entra o Império Romano. As catástrofes naturais provocadas pelas baixas temperaturas bruscas provocaram secas, destruíram culturas e causaram fomes e mortes. Entre os anos 541 e 543, o leste do Império Romano e todos os portos mediterrânicos foram afetados com a Praga de Justiniano, uma pandemia que ceifou a vida a um terço dos europeus,e que vários historiadores acreditam ter sido o golpe fatal para a queda do Império Romano.

Com as novas investigações, os cientistas do centro de investigação British Antarctic Survey, da Universidade de Nottingham, e de mais 17 universidades e institutos, acreditam que na origem da “nuvem misteriosa” que cobriu a Europa estão alguns vulcões norte-americanos que emitiram enormes quantidades de sulfato e cinza para a atmosfera, a que se seguiram erupções, desde 535. “Impediram a radiação solar de entrar na superfície da Terra”, explicou Michael Sigl. Toda aquela atividade vulcânica foi ruinosa para as comunidades mediterrânicas.

Os avanços científicos na medição temporal dos registos do gelo e dos anéis das árvores vão permitir, a partir de agora, compreender melhor qual o papel que as grandes alterações climáticas podem ter tido na ascensão e queda das civilizações ao longo da história.