A recente saída de Madrid, com uma despedida, a solo, na sala de imprensa do Bernabéu (quase dá a crer que a homenagem de hoje e o jogo que Florentino Pérez agendou com Porto para Agosto se devem mais devido às críticas na imprensa espanhola do que à boa relação que Iker manteve com os dirigentes merengues), foram só o culminar de uma “via sacra” que terá começado para o cinco vezes melhores guarda-redes do mundo no começo de 2013, poucos meses depois de se sagrar bicampeão europeu por Espanha.

Dir-se-á que os dias menos felizes de Iker Casillas em Madrid e no Santiago Bernabéu coincidiram com a chegada de José Mourinho ao banco do Real. O guarda-redes sofreu com problemas físicos, lesionou-se na mão, parou quase oito meses, desentendeu-se com Mourinho quando este o deu como um dos “bufos” do balneário (os restantes seriam Sérgio Ramos e Granero), perdeu a titularidade para Diego López e para Antonio Adán (o terceiro guarda-redes) quando López se lesionou também, mas o maior de todos os problemas para Casillas foi a má relação que manteve por meses com os pais, e que terá sido, talvez, a principal responsável pelo ar cabisbaixo e até carrancudo de Iker no banco.

Se há guarda-redes ou futebolista, sobretudo entre os mais titulados de sempre, uma lenda-viva do clube como Casillas o foi, que goste de ser suplente? Naturalmente que não. A mala racha de Casillas, utilizando uma expressão comum por Espanha, e como alvitravam os jornais de Madrid, terminaria em outubro de 2013, depois de um jogo para a Liga dos Campeões com o Copenhaga, em que Casillas subiu ao relvado para fazer uma par de defesas que lhe devolveriam, por ora, as boas graças do Bernabéu. Mas a verdadeira mala racha até terminou meses antes, a 17 de janeiro, quando, segundo o Registro Mercantil de Madrid, Iker afastou os seus pais, José Luis Casillas e María del Carmen Fernández, dos destinos da empresa Ikerca S.L. que os três detinham. José Luis, María del Carmen e Iker deixaram de falar por altura do Europeu de 2012, na Polónia e na Ucrânia, e o pai de Casillas só ia ao Bernabéu a convite do presidente Florentino e à revelia do filho.

Agora que a mãe de Casillas voltou a ser de novo notícia, primeiro por dizer que o FC Porto era “um clube de Segunda B” e depois por pedir perdão, vale a pena recordar a história.

Os pais de Iker Casillas controlavam a empresa desde 21 de setembro de 2000, quando Iker ainda era um niño, razão pela qual, na altura de romper relações, exigiram receber 40 por centro do valor da Ikerca S.L., avaliada à época em mais de 13 milhões de euros. A empresa, hoje detida em exclusivo por Casillas, não só gere a imagem e as receitas com publicidade do hoje guarda-redes portista, como detém vários imóveis que o jogador foi adquirindo ao longo dos anos. Parte desses imóveis ficaram em posse dos pais de Casillas.

A história não é nova, o El País deu conta dela em outubro de 2013, e também não é novidade que a família dos futebolistas lhes gira a fortuna — o pai de Messi, Jorge Horacio, não só gere a carreira e os dinheiros do filho, como respondeu por ele em tribunal quando o “Pulga” foi acusado de branqueamento de capitais. O caso de Casillas foi, no entanto, o mais mediático entre os futebolistas já de si mediáticos, valeu uma grande quantia indemnizatória aos pais dele, bem como o rompimento de relações. Até hoje.

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