No terceiro e último dia da 21ª edição do Super Bock Super Rock (SBSR) o tempo esteve a favor, ouvir música sem o sol a queimar foi um luxo. Junte-se a isso três nomes portugueses, dois a emergir e outro já lançado – e foi o suficiente para fazer do palco Antena 3 uma esplanada onde apeteceu ficar. Os Thunder & Co. foram os primeiros e rapidamente transformaram o recinto numa pista de dança, batida forte, quase sempre em contínuo, mantiveram a plateia firme. Depois os D’Alva reuniram muita gente (aquelas escadas do MEO Arena são um íman), foram esforçados mas falta-lhes ritmo e brilho. Nem uma versão das Spice Girls lhes deu gás. Finalmente, os We Trust de André Tentugal fecharam com chave de ouro o palco dedicado à nova música made in Portugal.

No palco EDP, Márcia contou com as participações de Samuel Úria e Criolo para apresentar “Quarto Crescente” e mais tarde os Palma Violets tentaram abanar a pala do Pavilhão de Portugal, a pala aguentou mas não tiveram grande efeito. Mais tarde, os Unknown Mortal Orchestra (EUA/Nova Zelândia) soaram a isso mesmo, a uma orquestra de rock. Muitos fãs esperavam por eles e outros que chegavam foram ficando. O detalhe com que tocam cada instrumento e o som do conjunto final fizeram desta atuação uma das mais interessantes. Músicos muito competentes (destaque para o baterista Riley Geare) esticaram os instrumentais com perícia e improviso. Aguentaram bem a falha de som inicial (no microfone ou no cabo, o vocalista Ruban Nielson não se ouvia), seguiram sem parar até que o problema ficasse resolvido, mas parecia que podiam ter ficado ali a tarde inteira, a puxar pelas curvas dos três álbuns de estúdio. Ao Observador, Riley Geare disse que que estão a programar um espetáculo na cidade do Porto, ainda este ano. Boas notícias.

A seguir chegaram os brasileiros Banda do Mar, que são um caso sério de popularidade. “Casa cheia” para os receber, que é como quem diz que todo o espaço fronteiro ao Pavilhão de Portugal estava ocupado com público ansioso para dançar e cantar. Mallu Magalhães, com o seu jeitinho doce, lá foi seduzindo e encantando. A seu lado, Marcelo Camelo manteve o ritmo e o equilíbrio de uma banda que também vale pela intimidade que cria no palco primeiro, com a plateia depois.
O Brasil continua a ser um sucesso em Portugal e estes Banda do Mar entraram com toda a facilidade nas orelhas portuguesas. Apenas com um ano de vida – e um disco – não precisam de mais para encher as almas. Toda a gente canta os êxitos, toda a gente sai feliz de um show que compõe uma noite bonita. E Ana Julia, o clássico dos Los Hermanos, ganhou uma nova vida à beira-rio.

Para o espetáculo de Franz Ferdinand & Sparks fomos de pé atrás, porque estas coisas normalmente são forçadas. As colaborações entre bandas não costumam sair bem e acabam por servir apenas para justificar os bilhetes para digressões em momentos menos criativos. Essa é a regra, mas no sábado viu-se em palco a exceção. Os The Sparks combinam muito bem com Franz Ferdinand. Os escoceses ganham em ter ao lado estes veteranos do rock americano (formados em 1971) e as músicas renovadas têm uma alma muito mais interessante. Há força, há pujança, há determinação em todos os temas – dos mais conhecidos dos FF aos desconhecidos dos Spark. O público correspondeu com dedicação.

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Quando se ouve o “Number One Song in Heven”, um original de 1979, o teclista Ron Mael levanta-se para dançar algo que poderá ser próximo de um breakdance geriátrico (o músico conta 69 primaveras). E a multidão foi à loucura, daí até ao fim já não mais se parou de abanar na Arena. Muitos tinham-se aproximando já a antecipar Florence, mas foram brindados com a boa surpresa deste som esgalhado num cruzamento geracional entre a pop britânica e o rock americano. Quando o show terminou já a Arena estava cheia, algo bem merecido dada a dimensão do espetáculo e a intensidade do som.

E depois, bem, depois foi esperar meia hora pela apoteose sonora. É que o melhor estava mesmo guardado para o fim. Os Florence and the Machine deram o grande concerto da edição de 2015 do Super Rock. Poucos minutos depois da uma da manhã, a vocalista (a estrela) irrompeu pelo palco adentro. Vestida de branco esvoaçante e descalça, correu desenfreadamente – mais palco houvesse mais ela corria. As danças frenéticas duraram até que as luzes do MEO Arena se apagaram. Cada canção, uma explosão de sentimentos.

À terceira veio logo “Shake it Out”, com a sala a gritar os refrãos. O espetáculo seguia em crescendo e, pelo meio, duas idas da vocalista à plateia. Os choros dos fãs, os toques nervosos à diva, as coroas de flores que a própria entregou a quem lhe tocava. Depois, agarrou na bandeira portuguesa e levou-a para o palco.

Esta mulher oscila entre o céu e o inferno. E nós com ela. Parece uma boneca de caixa de música, um anjo com toques teatrais. Quebra o corpo ao ritmo da bateria, ensaia coreografias quase em transe. Vibra com as canções como se as apresentasse ao público pela primeira vez na vida. Florence não para e mantém a voz, é muito difícil cantar (e gritar) assim, num tom muito característico que foi bem amplificado pelo coro de cinco vozes femininas. Florence Welch vestiu-se de branco sem que preciso fosse, tem um brilho encantador que é reforçado pelo cabelo ruivo e pelos gestos insinuantes de quem está num transe que tem mesmo de ser partilhado.

Quando puxou pelo recente “What kind of Man”, mais ninguém parou de saltar até ao fim. Diga-se que a plateia estava rendida desde os primeiros acordes, mas no final os sorrisos eram unânimes – e óbvios. Grande, grande concerto da diva que encheu o MEO Arena e fechou de forma brilhante este festival.

O SBSR conquistou uma área nobre da cidade e tem todas as condições para ali ficar. Os acessos são fáceis, a vista é magnífica e isso tudo junto traz um público muito diferente daquele que costumamos ver nos “tradicionais” festivais de verão. O Super Rock torna-se, por isso, uma alternativa interessante.

Uma nota final e positiva para a melhoria do som do palco da malfadada pala do Pavilhão de Portugal, que melhorou ao longo dos dois dias, um esforço técnico necessário para que este “novo” festival na cidade seja completo. Afinal de contas, é de música que ele é feito, desde 1995. Venham mais.

Estivemos no Twitter e no Periscope e no Instagram e foi um prazer comunicar tanto com quem nos leu e viu. Em agosto vamos até ao campo assistir ao Vodafone Paredes de Coura. Até lá.