A UNESCO informou, este sábado, ter reportado ao Tribunal Penal Internacional (TPI) a destruição de importantes mausoléus no norte do Mali, ocorrida durante a ocupação por fundamentalistas islâmicos.

“A UNESCO envolveu o Tribunal Penal Internacional”, revelou a diretora geral da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), Irina Bokova, aos jornalistas, no final de uma visita a Timbuktu.

Em 2012, insurgentes ligados à rede Al-Qaeda tomaram Timbuktu — a cerca de 1.000 quilómetros a nordeste da capital do Mali, Bamako — e destruíram monumentos históricos e religiosos da cidade, incluindo santuários islâmicos catalogados pela UNESCO como património mundial.

“Há dois meses encontrei-me com o procurador e acredito que estão a avançar rapidamente e espero que estejam prontos para apresentar o caso junto do TPI”, afirmou Irina Bokova, sem facultar detalhes sobre as acusações a formular em concreto.

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A diretora geral da UNESCO recordou que a destruição de património cultural é um ato que pode ser considerado crime de guerra ao abrigo da Convenção de Haia das Nações Unidas de 1954.

A agência da ONU começou a reconstruir Timbuktu, com o governo maliano e outras organizações internacionais, depois de uma operação militar, liderada pela França, em 2013 que levou os ‘jihadistas’ a abandonarem a cidade.

A reconstrução, que teve início no ano passado, depende fortemente de métodos tradicionais de construção e de conhecimento cultural da área, gerou aproximadamente 140 empregos.

“É através da reconstrução dos mausoléus que podemos acompanhar os acordos de paz e restaurar a identidade da cidade (…). Também vamos ajudar a renovar outras riquezas do património cultural de Timbuktu”, acrescentou a mesma responsável.

Tombuktu, batizada como “a cidade dos 333 santos” dispõe de muitos túmulos e mausoléus de santos e eruditos, o que sempre suscitou a recusa dos elementos mais ortodoxos da ala sunita, cuja visão da religião os leva a considerar idolatria e heresia qualquer outra forma de culto ou adoração que vá além do mais rigoroso monoteísmo.

Cerca de 4.000 manuscritos foram perdidos, roubados ou queimados, durante a tomada islâmica e 10.000 outros descobertos em condições de armazenamento desadequadas.

Todo o projeto de restauração, com a duração prevista de quatro anos, foi estimado em 11 milhões de dólares (10,1 milhões de euros).

Até ao momento, foram angariados, com o apoio do Banco Mundial, União Europeia, Suíça e Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), três milhões de dólares (2,7 milhões de euros).