A WikiLeaks está “afogada em material” para divulgar, em particular sobre “espionagem massiva” feita pelos serviços secretos dos EUA. A informação é avançada por Julian Assange, numa entrevista cedida à revista alemã Der Spiegel. O fundador do portal sublinha que há documentos sobre espionagem a políticos alemães, entre os quais estão a chanceler alemã, Angela Merkel, e o ministro dos Negócios Estrangeiros. Embora não possa revelar as fontes da informação, Assange assegura que “há razões para acreditar na autenticidade dos documentos”.

O australiano de 44 anos relata as pressões de que foi alvo mas garante que “sobreviveu”. Assange diz que o conflito com os Estados Unidos começou “a sério” em 2010, depois da publicação de vários documentos que causaram reações incómodas naquele país. Daí resultaram vários processos judiciais, bloqueios e um ataque bancário que “cortou mais de 90 por cento do financiamento” da WikiLeaks. Julian Assange diz que tomou medidas legais para travar esse bloqueio e assegura que há várias pessoas a enviarem donativos para que o portal continue a funcionar.

“Nós tornámo-nos um bocado como Cuba, a trabalhar para contornar este bloqueio. Vários grupos como a Fundação alemã Wau Holland enviaram-nos donativos durante este bloqueio”, conta Assange à Spiegel.

O fundador da WikiLeaks diz ainda que houve ataques às infraestruturas técnicas e que a equipa do portal teve de sofrer cortes de 40 por cento nos ordenados, “mas felizmente não tivemos de despedir ninguém”, remata Assange. Mas para onde foram os donativos? Para o investimento na proteção das fontes, diz. A WikiLeaks recebe denúncias anónimas de quem tenha provas de espionagem ou corrupção e o dinheiro recebido permitiu atualizar o sistema de envio para proteger a identidade das fontes.

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Julian Assange vive há três anos na Embaixada do Equador em Londres para escapar a um pedido de extradição para a Suécia, devido à acusação por duas mulheres de agressão sexual e violação. Assange teme que a extradição leve a uma transferência para os EUA, que pode conduzir ao julgamento pela divulgação de documentos militares e diplomáticos. Mas os problemas não terminam nos EUA. A Arábia Saudita decretou que quem publicar informações do governo arrisca uma pena de 20 anos de prisão e a Austrália, país de onde Assange é natural, está a fazer uma investigação criminal à WikiLeaks. No total, estão a decorrer uma dúzia de processos judiciais contra Assange.

A maioria dos leitores do portal vêm dos EUA e da Índia, conta Assange à revista alemã. E há quem procure a WikiLeaks para confirmar informações sobre pessoas. Um exemplo: “A irmã vai casar e alguém quer investigar o noivo. Ou alguém está a tratar de um negócio e quer saber mais sobre o potencial parceiro”, explica.

Segundo Assange, a prioridade da WikiLeaks agora está nos acordos comerciais entre os EUA e outros países. “Esses acordos são um ‘pacote’ que os EUA estão a usar para se reposicionarem no mundo contra a China, para construirem uma grande arena (de poder)”.