A história está a gerar uma verdadeira onda de solidariedade em Espanha. Aos oito anos, Nahjiba Mohamed Belkacem era uma das 120 mil sarauís que viviam (e ainda vivem) em campos de refugiados à volta de Tindouf (Argélia). Ao abrigo de um programa de acolhimento, promovido pela associação “Férias em Paz”, Nahjiba viajou para Espanha com a família adotiva. Em dezembro de 2013, voltou ao campo de refugiados para visitar a família biológica. Tinha bilhete de ida e volta, mas nunca mais foi autorizada a regressar a Espanha.

Tinha tudo para ser mais uma visita normal. Mas as coisas começaram a complicar-se poucos dias depois de ter chegado ao campo de refugiados. Os familiares da jovem de 23 anos disseram-lhe que teria de passar alguns meses a a aprender hassania – a língua falada no Sul de Marrocos, Saara Ocidental, Oeste da Argélia – e que não voltaria a Espanha. Poucos dias depois o passaporte de Nahjiba foi roubado, assim como o seu certificado de residência em Espanha. Sem documentos, está impedida de regressar.

Recentemente, numa entrevista telefónica ao espanhol La Vanguardia, a jovem deixou o apelo: “Quero ser livre”. Mas, e apesar de ser maior de idade e viver há 15 em Espanha, Nahjiba está retida contra a sua vontade, junto da família biológica, por pressão da Frente Polisário – movimento político que luta pela independência do Saara Ocidental.

Ao mesmo o jornal, o porta-voz da delegação da Frente Polisário em Madrid, Bucharaya Beyun, explicou o quão delicado é o caso de Nahjiba: as crianças que deixaram o campo de refugiados e que foram acolhidas por famílias adotivas passam muitos anos sem retornar aos campos e acabam por perder as raízes. As famílias biológicas têm medo de as deixar regressar. “Este é um problema entre as famílias e nós [Frente Polisário] não podemos impor qualquer solução”.

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Como recupera a mesma publicação espanhola, a Frente Polisário defende, pelo menos na sua ideologia, “a emancipação da mulher”, apesar de deixar bem claro que essa “transformação, numa sociedade nómada” e ancestral como a sarauí, vai “representar um enorme choque de mentalidades”. Abidim Bucharayas, representante da Polisário na região de Andaluzia e responsável pelo processo de Nahjiba, garantiu que estão a ser feitos todos os esforços para fazer respeitar a decisão da jovem de regressar a Espanha, mas, quase dois anos depois, o pesadelo continua por resolver.

“Em 2000, a minha mulher foi ao centro de saúde [criado para ajudar os doentes do campo de refugiados] e deu de caras com um caso de uma menina sarauí que tinha problemas de saúde. [A enfermeira] disse-lhe que tinha três filhos e não podia cuidar [de Nahjiba] com a dedicação que a menina precisava”, contou o pai de acolhimento, José María Contreras, ao La Vanguardia.

O casal espanhol decidiu adotar a menina, que continuava, ainda assim, a visitar regularmente a família biológica ou os seus familiares iam vê-la a Espanha. Mas, nos últimos anos, Nahjiba ia menos cada vez menos à Argélia, “por medo que lhe acontecesse o que acabou por acontecer”, revelou José María Contreras.

Entretanto, foi lançada uma campanha em Espanha que exige a libertação da jovem. O Governo espanhol, por seu turno, diz estar de mãos e pés atados porque ela não tem nacionalidade espanhola. A família de acolhimento, depois de tentar convencer, sem êxito, a família biológica a libertar Nahjiba, já recorreu a várias instâncias. Até agora, sem êxito.

Quase dois anos depois, Nahjiba Mohamed Belkacem, de 23 anos, continua, assim, presa num campo de refugiados contra a sua vontade.