Apesar de todos os medos e dos fantasmas que dançam em torno desta visita de Barack Obama a Nairobi, a febre da “Obamamania” atravessa toda a região. Como conta o jornalista Alastair Leithead, enviado especial da BBC, os quenianos estão a vestir os fatos de gala para receber o Presidente norte-americano, o primeiro a visitar o país. Os detalhes da visita presidencial têm enchido todos os dias as páginas dos jornais e na rua multiplicam-se as t-shirts com o rosto de Obama estampado e os murais pintados em honra do líder dos Estados Unidos.

Os “lápis” dos cartoonistas e ativistas quenianos também não têm parado. Entre críticas aos regimes ditatoriais – ou no limite à fragilidade das democracias africanas – e também à atual influência da China na vida económica do continente africano – uma realidade recentemente denunciada no livro “A Pilhagem de África” pelo jornalista Tom Burgis -, os cartoonistas têm aproveitado a visita de Barack Obama para denunciar muitos dos problemas que atravessam o continente.

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Fonte: Time/Pawa254

Ao mesmo tempo, do Guardian, chega uma análise contracorrente ao espírito de euforia que se vive durante este fim de semana no Quénia. O jornal britânico escreve, a propósito da visita oficial de Barack Obama, que o Presidente norte-americano acabou por falhar em corresponder às expectativas de muitos líderes africanos. Eleito em 2009, o “filho do Quénia” seria o homem indicado para ajudar os africanos a estancar a ferida que lateja no continente. Mas Obama foi tudo menos isso: durante a sua presidência, África acabou por se tornar um lugar ainda mais perigoso e esquecido, muito por culpa das “intervenções desastrosas” em matéria de defesa e política externa, sublinha a publicação.

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A crescente influência chinesa no continente ajuda a explicar o sentimento de abandono que muitos africanos sentem em relação aos Estados Unidos, continua o jornal britânico. De acordo com os dados do Instituto Brookings, citado pelo Guardian, a China ultrapassou os norte-americanos como maior parceiro comercial dos países africanos precisamente em 2009. Dai para cá, sob a batuta de Obama, a relação comercial dos Estados Unidos com África tem vindo a decrescer a olhos vistos.

No plano político, e com a crescente saída de cena dos EUA, ditadores como Yoweri Museveni, do Uganda, e Robert Mugabe, Zimbabué, começaram a ganhar força, alimentados pelos yuans que chegam dos empresários chineses, pouco interessados em misturar política com negócios.

A guerra ao terror e a revolução na Líbia – apoiada pelos norte-americanos – acabou por desequilibrar o já de si muito frágil tabuleiro geoestratégico do continente, analisa ainda o Guardian. O crescimento e proliferação dos grupos terroristas trouxe, ainda, um problema mais delicado: muitos ditadores africanos estão a “esmagar grupos de oposição legítima” sob o falso pretexto da luta contra o terrorismo.

A juntar ao barril de pólvora está o progressivo desinvestimento norte-americano em grupos que lutam pela democracia em África. Com falta de financiamento e apoio, esses grupos perdem influência ao mesmo ritmo que crescem o fundamentalismo religioso e a circulação de armas entre os grupos terroristas.

O Guardian deixa ainda um outro apontamento: sim, África precisa dos Estados Unidos para evoluir, mas os norte-americanos continuam a falhar em desenhar uma solução válida de atuação. E o pior é que o tempo está a esgotar-se.