Quase um mês depois de a TVI ter decidido acabar com o comentário político que Augusto Santos Silva detinha na TVI 24, Sérgio Figueiredo quebra o silêncio. E não poupa nas palavras. O diretor de informação do canal de televisão refere que o ex-ministro de José Sócrates “não é nenhum tonto” e que não voltou à TVI24 “por ser malcriado” e “não porque a sua voz é incómoda”. As palavras foram escritas no artigo de opinião que assina esta segunda-feira no Diário de Notícias.

“Para acabar de vez com um monólogo patético e deprimente”, escreveu Sérgio Figueiredo no título do artigo que começa e acaba com alusões à cobardia. “Quem é cobarde nesta história? Quem bate pelas costas? Quem marca uma conversa em privado e, à traição, atira uma pedra sem aviso e sem pudor?”, questiona, antes de afirmar que “é de decência que se trata e da ética que ele tanto apregoa”.

“A armadilha traiçoeira que montou a Paulo Magalhães [jornalista que o entrevistava no programa em causa], e a desconsideração soez que revelou por Fernando Medina autoqualifica a personagem e revela a raça de um egocêntrico. Se é assim com os amigos…”, escreveu o diretor de informação da TVI.

Sérgio Figueiredo conta que Santos Silva lhe enviou um email a 18 de junho, onde mostrava o seu desagrado com a programação de “Os Porquês da Política” – do programa onde fazia comentário político – e transcreveu a sua resposta no artigo de opinião. Ao ex-ministro de Sócrates, disse que gostava de deixar claro que “a TVI não quer livrar-se do seu comentador Augusto Santos Silva, não equaciona rescindir o contrato de prestação de serviços e terá muito gosto e empenho em até renová-lo para o próximo ano“.

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Apelando à sua compreensão, explica os motivos que levaram à alteração da programação no canal e termina dizendo que “quer muito conversar” com o comentador. Mas a resposta não terá agradado a Santos Silva, que no dia em que a recebeu fez um comentário público na sua página de Facebook questionando “porque estaria a ser tão maltratado na estação que lhe dava guarida”

“A TVI já estará farta de comentadores inscritos em partidos políticos e, como já lá tem fartura que chegue de inscritos no PSD, não precisa de um inscrito no PS, (…) porque eu digo disparates e ninguém me vê (…), ou porque a minha voz se está a tornar muito incómoda neste clima de sufoco que vivemos”, escreveu Santos Silva no Facebook.

A exposição de Santos Silva levou Sérgio Figueiredo a escrever-lhe, num email, que deveria ter percebido logo que o ex-ministro não queria continuar a colaborar com a TVI e questiona se quer ser ele a enviar a carta pedindo a renúncia do contrato ou se prefere que seja o diretor a enviá-la. Fernando Medina foi o nome anunciado pela TVI como novo comentador – também ele um “inscrito no PS”.

“Há um mês que mordo os lábios, num ato de contrição que, quem me conhece sabe, é contranatura, não vai com o meu temperamento. Vai morrer afogado num copo de água – pensava. E ainda penso. Mas este monólogo patético e deprimente foi além do tolerável. Chamem-lhe Narciso, chamem-me todos os nomes. Tenho os piores defeitos do mundo, cobarde é que não sou. Alguém perdeu aqui a face. Eu, que apanhei numa e depois noutra, já esgotei as duas que tinha”, terminou Sérgio Figueiredo.