O antigo Presidente da República Jorge Sampaio criticou a União Europeia (EU) por ter revelado uma “impotência decisória”, quebra de confiança, e “egoísmos nacionais”, numa cerimónia de homenagem pela atribuição do Prémio Mandela da ONU.

“Neste mundo preocupado por um diferente alinhamento de hierarquias de poder e da emergência de novas inseguranças, percebemos com desalento que a União Europeia, onde antes íamos buscar conforto (…) tem relevado nos últimos anos uma impotência decisória que parece marca maior da sua política externa”, afirmou Jorge Sampaio.

O ex-Presidente da República vincou também que a EU “tem revelando no seu seio, o que será mais grave para o futuro do projeto europeu, uma divisão e uma evidente quebra de confiança entre os seus membros, em que os antigos valores de solidariedade e respeito mútuo surgem trocados pelo arremesso público de anátemas, humilhações e pela imagem notória de fraturantes egoísmos nacionais”.

Jorge Sampaio foi homenageado em Lisboa, após ter recebido o Prémio Nelson Mandela da Organização das Nações Unidas (ONU) pelo trabalho que desenvolveu em prol dos ideais defendidos pela organização, numa cerimónia em que assinalou também que a violência marca este século.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Este novo século começou mal”, afirmou Jorge Sampaio no discurso que proferiu perante uma plateia “cheia de amigos”.

“Carregamos já nestes seus primeiros anos um cortejo de indescritíveis violências, situações de terror múltiplo e geograficamente disperso, crises económicas e financeiras demolidoras de um desejável progresso social, com preocupantes efeitos e uma grande descredibilização da ação política”, prosseguiu.

A cerimónia, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, contou com a presença do fundador do PSD Francisco Pinto Balsemão, o secretário-geral do PS, António Costa, o líder da bancada parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, ou a Procuradora-Geral da República, Joana Marques Vidal.

Também os antigos ministros da Saúde, Maria de Belém, Leonor Beleza e António Correia de Campos não faltaram, assim como os atuais ministros da Economia, António Pires de Lima, e da Saúde, Paulo Macedo.

O constitucionalista Jorge Miranda, o candidato presidencial António Sampaio da Nóvoa, o dirigente do Livre/Tempo de Avançar Rui Tavares, e o antigo líder do PSD Luís Marques Mendes também marcaram presença.

O antigo Presidente da República aproveitou também para exprimir o “agradecimento a todos os que, em Portugal e fora dele, têm favorecido o sucesso do programa de assistência académica a estudantes sírios”, que lançou “perante o drama humanitário inimaginável que esfacela o país”.

Revelando que o seu nome foi proposto para a atribuição do prémio à sua revelia, o antigo enviado especial da ONU na luta contra a tuberculose, agradeceu as “palavras excessivas” e dedicou o galardão a todos aqueles que sempre o ajudaram.

“É impossível que um português possa ter este prémio e não pensar no seu país e naquilo que o seu país pode tirar disso”, declarou aos jornalistas no final da cerimónia.

Numa cerimónia que começou e terminou com música, foram ouvidos também elogios, muitas palmas e alguns risos, a maioria provocados pelo antigo ministro António Correia de Campos, ao recordar algumas características do laureado.

“E quanto à postura de sobre-esforço que ele adora aparentar, desenganem-se, lembrem-se de como se transfigura a discursar, e já agora olhem para a gravata dele hoje e digam lá se não é a mais elegante desta sala, tal como os colarinhos de botão que usava nos anos 60”, disse, dirigindo-se à plateia, que respondeu com gargalhadas.

A cerimónia de homenagem a Jorge Sampaio contou ainda com as intervenções do presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, a embaixadora de África do Sul, Keitumetse Matthews, e a antiga ministra da saúde Leonor Beleza.