“Um caos total”. É este o clima que se vive nas ilhas gregas, depois de, só em julho, terem chegado à costa helénica qualquer coisa como 50 mil migrantes. O destino que os espera, sobretudo as ilhas de Lesbos, Kos e Chios, reserva-lhes nada ou quase nada: sem água, sem saneamento, sem um lugar seguro para pernoitarem, são transferidos para Atenas poucos dias depois de chegarem. Mas lá, a situação é igualmente dramática.

Os migrantes que chegam à costa grega são, sobretudo, refugiados das guerras que assolam a Síria, o Iraque e o Afeganistão. Vêm em busca de melhores condições de vida na Europa, através da Turquia. Mas nas ilhas gregas “não há infraestruturas de receção” ou, quando as há, estão completamente lotadas. Muitos são então obrigados a acampar ao ar livre, sem condições sanitárias ou água potável, revelou Vincent Cochetel, diretor para a Europa do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), citado pela BBC.

A agência da ONU para os refugiados, da qual o ex-primeiro ministro português António Guterres é o alto comissário, deixou um alerta: se não houver uma resposta rápida e concreta à crise humanitária que se instalou naquela região, o problema pode tomar dimensões ainda maiores. Uma reposta que deve ser apoiada por todos os países da União Europeia (UE), mas que a Grécia deve “liderar e coordenar”, reforçou Vincent Cochetel.

O problema é que a Grécia enfrenta os seus próprios desafios, entre a crise económica, social e financeira e a difícil situação política que atravessa o país. Na sexta-feira, depois de ter reunido de emergência com os seus ministros, Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, colocou a pressão do lado de Bruxelas e pediu apoio financeiro para lidar com o problema.

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“Agora é o momento para ver se a UE é a UE da solidariedade, ou uma UE em que toda a gente está a tentar proteger as suas fronteiras. O fluxo de imigrantes para a Grécia ultrapassa o que as infraestruturas do nosso Estado podem suportar. Temos problemas significativos para lidar com isso e é por isso que pedimos ajuda à UE”, afirmou Tsipras.

Enquanto não existe uma resposta conjunta das autoridades gregas e europeias, a situação vai piorando a cada dia. Kitty Arie, uma das responsáveis da organização Save the Children, explicou à BBC que o risco de doenças e de crimes humanitários motivados pela falta de condições e pela precariedade das instalações que acolhem os refugiados é cada vez maior. E as crianças são as primeiras vítimas.

“O risco de uma criança que é obrigada a dormir na rua sofrer abusos sexuais ou de os bebés morrerem de insolações é muito real. Esta é a Europa em 2015. Não podemos deixar estas crianças nesta situação desesperante”, insistiu Kitty Arie.

Os problemas para os que procuram na Grécia (e noutros países europeus, como a Itália) um porto seguro começam precisamente quando decidem fazer a travessia às mãos dos que se dedicam ao tráfico humano. Como recupera o canal de televisão britânico, a polícia italiana prendeu na quarta-feira cinco indivíduos suspeitos de serem responsáveis pela morte de cerca de 200 pessoas, que perderam a vida depois de o barco onde seguiam ter naufragado. E os relatos dos sobreviventes explicam bem a violência destas travessias.

Entre os detidos, estão dois líbios, dois argelinos e um tunisino, suspeitos de múltiplo homicídio e tráfico de pessoas. Os sobreviventes do naufrágio revelaram que os traficantes usavam facas para decapitar os migrantes africanos que seguiam a bordo e recorriam a cintos para manter os árabes dentro do porão.

À agência Reuters, Vincent Cochetel revelou que a entrada de novos refugiados em julho aumentou cerca de 70% face a junho. Entre os refugiados, estão cidadãos provenientes sobretudo da Síria (63%), Afeganistão (20%) e Iraque (4%).