Dois investigadores do Departamento de Planetologia da Universidade Kobe (Japão) encontraram uma possível explicação para a formação e manutenção do anel F, o anel mais exterior de Saturno, localizado entre o sistema de anéis e os satélites naturais do planeta. O anel F e os dois satélites que o acompanham podem ter resultado da colisão de outros corpos celestes nos limites do planeta gigante, conforme publicado esta segunda-feira na revista científica Nature Geoscience.

O anel F, descoberto em 1979, é o mais estreito dos sete anéis de Saturno. Mede entre 30 e 500 quilómetros de largura, segundo a NASA (agência espacial norte-americana), contra os 7.500 quilómetros do segundo anel mais estreito (o D) ou os 300 mil quilómetros do mais largo (o E). O anel F tem dois “satélites pastores” – Prometheus e Pandora -, um de cada lado. Aparentemente, estes satélites mantêm o “rebanho” de partículas no caminho certo, como se de ovelhas se tratassem, o que pode justificar que o anel seja tão estreito.

♦ Prometheus e Pandora são dois dos 53 satélites naturais de Saturno. Estes interagem diretamente com o anel F, outros estão localizados no espaço entre anéis, e outros, como Tethys e Dione, usam a mesma órbita.

Tanto o anel F como os restantes anéis de Saturno mantêm-se porque a força da gravidade exercida pelo planeta gigante e as marés provocadas por ele não deixam que as partículas dos anéis se agreguem. Mais afastado da ação do planeta, no exterior do anel F, as partículas agregam-se e, com o próprio movimento de rotação, tornam-se satélites esféricos. Faltava, no entanto, perceber como é que este sistema de anel e os “satélites pastores” se tinham formado.

Os investigadores japoneses criaram um modelo em que dois satélites feitos de partículas de gelo a envolver um núcleo rígido colidiam. Da colisão resultavam dois satélites a partir dos núcleos e três anéis – um entre os satélites e os outros do lado contrário de cada um dos satélites. A órbita dos satélites em torno de Saturno obrigaria as partículas de gelo que resultaram da colisão a manter-se num anel (naquele entre os satélites). Este anel pode ser alimentado por partículas de outras colisões ou corpos vindos do espaço, como cometas. O mesmo modelo de colisão, mas de satélites sem núcleo rígido, pode explicar a formação de anéis sem “satélites pastores”.

Os investigadores lembram que o anel F será, muito provavelmente, um sistema recente na evolução do planeta e que poderá estar ainda em formação. Já Aurélien Crida, investigadora no Observatório da Côte d’Azur, em Nice (França), num comentário ao artigo diz que “um modelo bem-sucedido do sistema do anel F também tem de explicar a sobrevivência a longo prazo”. Na maioria das simulações de Ryuki Hyodo e Keiji Ohtsuki, as órbitas dos satélites não estão separadas o suficiente para evitar que colidam no futuro.

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