Há males que vêm por bem, terá pensado “Sarah”. Cometeu um erro, é certo, mas é precisamente pela sua confissão que começa: “Não completei o currículo conforme me comprometi no meu plano de ação”. Isto é, esta mulher, da qual só sabemos o primeiro nome, não preencheu o documento requerido pelo centro de emprego (Jobcentreplus, no Reino Unido). Segundo as regras, por causa desta falha, “Sarah” teria uma redução do seu subsídio de desemprego. E assim foi.
“Recebi uma carta a dizer que o meu subsídio iria diminuir durante duas semanas. Dizia que seria durante mais de uma semana porque já tinha faltado a uma reunião com o meu gestor de carreira em março.”
Mas, como escrevemos no início deste texto, há mesmo males que vêm por bem. “Sarah”, que lá completou o resto do currículo, explica:
“O meu subsídio já voltou ao normal e estou muito contente com a maneira como o meu currículo ficou. Vai ajudar-me quando estiver pronta para voltar a trabalhar.”
Ora, “Sarah” não é Sarah, nem aquela história corresponde à experiência da mulher ruiva e sorridente que aparece numa fotografia ao lado. Tampouco “Mark”, que também aparece no mesmo folheto do Departamento de Trabalho e Pensões (DTP, que é tutelado pelo governo de David Cameron), é o homem que aparece na fotografia. E aquela citação também não é sua.
O objetivo do folheto era o de informar os cidadãos com subsídios de desemprego acerca do novo sistema de sanções para aqueles que entrem em incumprimento das obrigações uma vez inscritos no centro de emprego.
As dúvidas quanto à autenticidade das histórias relatadas neste folheto surgiram quando a revista especializada Welfare Weekly questionou 0 DTP acerca da origem daquelas fotografias e daquelas histórias. Antes de terem sido enviadas as respostas às perguntas da Welfare Weekly, o folheto foi tirado de circulação e o ficheiro pdf (disponível aqui) foi retirado do site daquele órgão do Estado.
Só depois disso é que as respostas chegaram. “As fotografias usadas são de um banco de imagens e os nomes não pertencem a beneficiários reais”, disse fonte do DTP à revista. “As histórias são apenas para fins ilustrativos.”
“Queremos ajudar as pessoas a perceber quando é que as multas podem ser aplicadas e como é que eles podem evitá-las tomando certos procedimentos. Usar exemplos práticos pode ajudar-nos a garantir isso.”
Depois deste episódio, o folheto foi mudado — as fotografias deram lugar a “silhuetas” e foi colocada “uma nota que diz claramente que aqueles exemplos são meramente ilustrativos”, adiantou o mesmo órgão.
Esta notícia surgiu dez dias após a polémica com os cartazes do PS, primeiro, e do PSD/ CDS, depois.