A Comissão Europeia (CE) rejeitou as críticas lançadas por alguns parceiros comunitários sobre a falta de ação das instituições europeias face à atual crise migratória.

O ministro do Interior alemão, Thomas de Maiziere, afirmou na quinta-feira que era “inaceitável que as instituições europeias continuem a trabalhar no atual ritmo lento” para encontrar uma solução conjunta para a crise.

Num comunicado enviado à agência francesa AFP, o comissário para a Migração, Assuntos Internos e Cidadania, Dimitris Avramopoulos, refutou as declarações do ministro alemão.

“A Comissão tem trabalhado dia e noite durante todo o verão para oferecer apoio financeiro aos Estados-membros para a criação de ‘hot-spots’ [centros de identificação de migrantes] e para acelerar os procedimentos de regresso”, recordou o comissário

Os ‘hot-spots’ são centros a instalar na Grécia e em Itália, onde os migrantes recém-chegados irão ser conduzidos para serem identificados. Nesses centros será feita uma triagem entre as pessoas que podem solicitar o estatuto de refugiado e os migrantes económicos, cujo repatriamento para os países de origem será quase certo.

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“Tomámos todas as medidas para conseguir em breve apresentar propostas legislativas concretas para um programa de reinstalação permanente para os requerentes de asilo e uma lista europeia de países de origem seguros”, acrescentou o político grego.

“Intensificámos os nossos esforços para que as regras de Dublin [regulamento que organiza a avaliação dos pedidos de asilo na Europa] sejam respeitadas pelos 28 Estados-membros e para pôr em prática a solidariedade europeia em benefício dos Estados-membros que mais precisam”, frisou o comissário.

O ministro do Interior alemão disse esperar que estes centros de identificação estejam operacionais até ao final do ano na Grécia e em Itália, os países mais pressionados pela chegada em massa de imigrantes.

A Comissão Europeia também foi surpreendida quando o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, anunciou na quinta-feira que os ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros dos 28 iam reunir-se em Paris em meados de outubro para discutir como os Estados-membros devem responder ao enorme afluxo de migrantes e refugiados registado nas fronteiras do espaço comunitário.

Este encontro coordenado pelos governos francês e alemão, sem uma consulta mais ampla, provocou alguma irritação junto do executivo comunitário, que chamou à atenção para o cumprimento das vias normais da UE, nomeadamente a apresentação de propostas junto dos Estados-membros e do Parlamento Europeu.

O comissário Dimitris Avramopoulos e o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, vão encontrar-se no próximo dia 31 de agosto com o ministro do Interior francês na localidade francesa de Calais (norte), onde milhares de migrantes estão acampados para tentar entrar no Reino Unido através do túnel sob o canal da Mancha (Eurotúnel).

“Aproveito a ocasião para reiterar que Schengen [acordo de livre circulação] não é negociável e a livre circulação é um direito fundamental da União Europeia”, referiu o comissário europeu, no mesmo comunicado.

“Não devemos esquecer que estamos a falar de seres humanos, pessoas cuja dignidade deve ser respeitada, pessoas com as quais temos uma obrigação moral e legal de proteger”, concluiu Avramopoulos.

A agência europeia de fronteiras divulgou esta semana que o número de migrantes que chegaram às fronteiras da UE em julho triplicou em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo os 107.500, o terceiro recorde mensal consecutivo.