As redes sociais são uma presença constante no dia-a-dia de milhares de pessoas no mundo inteiro. Com o desenvolvimento dos smartphones e das aplicações móveis, tornou-se possível levá-las para qualquer lado — para a praia, para o trabalho ou para um almoço de família. Todos os momentos são bons para lançar um tweet ou para publicar uma fotografia no Instagram.

Mas as redes sociais não estão apenas presentes nos bons momentos, nos jantares com os amigos ou nos longos dias de praia. Com o passar dos anos, tornaram-se num veículo de comunicação quase instantâneo, que permite dar a conhecer, no espaço de segundos, o que se passa na outra ponta do globo. São uma ferramenta de informação.

Isto significa que deixaram de ser apenas um meio para comunicar com os amigos e familiares. Tornaram-se uma forma de registar os mais importantes acontecimentos sociais do nosso século. É por isso natural que, com o passar das décadas, plataformas como o Twitter ou o Facebook acabem por servir como fonte histórica. Pelo menos é isto em que Katrin Weller, investigadora do GESIS Leibniz Institute for the Social Sciences, na Alemanha, acredita.

As fontes históricas do futuro?

Para Katrin Weller, as redes sociais poderão vir a ocupar um papel importante no que diz respeito à investigação histórica e poderão mesmo vir a tornar-se numa das principais fontes de consulta dos historiadores. Isto porque os “conteúdos das redes sociais cobrem um amplo espetro” de coisas, que vão desde “o testemunho de manifestações ou desastres naturais a comentários políticos”.

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“Muita da nossa comunicação do dia-a-dia é baseada no uso das redes sociais. As pessoas usam-nas para divulgar eventos públicos, para comentar notícias, mas também para falar com amigos e para partilhar experiências pessoais. Para além disso, as redes sociais são também usadas por muitos políticos, outras figuras públicas e instituições (e outras pessoas que podem interagir com eles através desses canais)”, explicou a cientista de informação ao Observador.

Neste sentido, o Facebook ou o Twitter poderão ajudar os investigadores a “entender a nossa cultura e sociedade, debates públicos, comportamento pessoal” e, até, eventos históricos específicos porque podem cobrir “grandes eventos nacionais, como eleições, ou pequenos detalhes do dia-a-dia”. “Partindo do pressuposto que informação suficiente permanecerá preservada em arquivos de longa duração, os historiadores poderão, por exemplo, ir a esses arquivos e olhar para números agregados e para redes de modo a identificarem pessoas ou locais importantes”, acrescentou a investigadora do instituto de Colónia.

Apesar da relevância que as informações divulgadas nas redes sociais possam ter no futuro, Katrin Weller não acredita que estas serão a principal fonte de consulta histórica, excetuando nos casos em que elas próprias desempenharam um papel importante, como aconteceu durante a Primavera Árabe.

“Por exemplo, se alguém quiser estudar até que ponto os protestos foram organizados através das redes sociais, a fonte principal será, naturalmente, informação recolhida do Twitter e do Facebook”, explicou a investigadora.

As redes sociais serão, assim, apenas uma das fontes que poderão vir a ser usadas para reconstruir os episódios mais importantes da História contemporânea.

Preservar a informação online. Um desafio para o futuro

Mas nada disto será possível se as informações partilhadas na internet não forem armazenadas. A este respeito, Katrin Weller considera que ainda existe muito para ser feito. “Já foram feitos alguns esforços para preservar as informações guardadas nas redes sociais, mas ainda são raros. A maioria das informações pertencem à empresa que gere a plataforma, como o Facebook ou o Twitter, e estas só são acessíveis e só podem ser usadas dentro dos limites dos termos e condições”, referiu a cientista de informação.

Isto significa que só será possível armazenar os tweets ou os posts dos utilizadores se as empresas firmarem um acordo ou uma colaboração com um arquivo. E, mesmo assim, ainda existirão vários desafios técnicos e éticos que precisarão de ser ultrapassados.

Em 2010, o Twitter, em conjunto com a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos da América, anunciou que pretendia armazenar todos os tweets publicados para que pudessem ser consultados no futuro. Cinco anos depois, ainda não existe nenhum arquivo que possa ser consultado. Para além da empresa fundada por Jack Dorsey e Evan Williams, nenhuma outra rede social mostrou interesse em preservar as mensagens dos seus utilizadores.

Apesar de um número cada vez maior de investigadores se dedicar a encontrar soluções para os desafios que o armazenamento de informação online ainda apresenta, perante o panorama atual, a investigadora alemã considera que é “muito provável que muitos dados se percam antes de os historiadores terem a hipótese de olhar para eles”. E, mesmo que eles sejam preservados, é muito provável que percam as características dos sites que as agregam.

“Mesmo que as pessoas tenham acesso a estas coleções de textos ou até a imagens e a vídeos que foram publicados pelos utilizadores atuais das redes sociais, elas podem não ser capazes de ver como é que este conteúdo surgia numa plataforma e como é que os utilizadores interagiam com ele.”

As redes sociais na atualidade

De acordo com um estudo da Business Insider Intelligence, a maioria dos utilizadores passa mais tempo nas redes sociais do que em qualquer outro site da internet. Só em Portugal, estima-se que 72,4% da população entre os 16 e os 74 anos utilize regularmente redes sociais como o Twitter ou o Facebook. A percentagem é muito superior à média europeia, que ronda os 46%, segundo dados de 2014 divulgados pelo Eurostat.

O número tem vindo a aumentar. Em 2009, menos de 30% dos europeus usava regulamente as redes sociais para comunicar. Em 2010, o número subiu para 32% e, em 2012, para 40%. Portugal tem seguido a tendência europeia (e mundial) — em 2010, a percentagem de utilizadores rondava os 60%; em 2013, o número ascendeu aos 70,3%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

Segundo o estudo “Os Portugueses e as Redes Sociais”, realizado pela Marktest Consulting em 2014, 96% dos utilizadores de redes sociais têm uma conta no Facebook. A seguir à plataforma criada por Mark Zuckerberg, a rede social mais popular é o Youtube, com uma percentagem de utilização de 41%.

Os números são um reflexo da importância cada vez maior que as redes sociais têm no dia-a-dia de milhares de utilizadores em Portugal, mas também no mundo inteiro. Apesar de alguns preferirem apontar os defeitos de sites como o Facebook ou o Instagram, a verdade é que o número de utilizadores não para de aumentar. De tal forma que, para a maioria das pessoas, “o termo ‘redes sociais’ já nem faz sentido” nenhum.

“Comentar e partilhar informação pessoal na web tornou-se tão banal, em tantas formas diferentes, que já ninguém nota a diferença entre usar a internet, de um modo geral, e usar as redes sociais”, referiu Katrin Weller.

Apesar de as redes sociais se terem tornado numa coisa banal, para a investigadora estas continuam a ser “uma coisa especial”. “Os ambientes virtuais permitem novas formas de comunicação e de interação. Isto é fascinante de muitas maneiras e permite-nos estudar uma grande variedade de tópicos e um novo fenómeno.”