A automedicação é o consumo de substâncias biologicamente ativas para eliminar, inibir ou aliviar os sintomas da doença. Um comportamento praticado pelos humanos e, segundo um estudo agora publicado na revista científica Evolution, também por formigas. Os investigadores finlandeses verificaram que estes pequenos insetos mudam a alimentação depois de serem atacados por um fungo, aparentemente para vencerem a infeção.

“Mostrámos que, pela primeira vez, as formigas consomem seletivamente substâncias nocivas (agentes oxidantes) depois de expostas a um fungo patogénico [que causa doença], ainda que as evitem na ausência de infeção”, refere a equipa no artigo. “Este aumento de agentes oxidantes, ainda que danoso para as formigas saudáveis, leva a uma sobrevivência das formigas expostas [ao fungo patogénico].”

Todos os animais, incluindo o homem, são atacados por parasitas. Quando estes aparecem na pele, pêlo ou penas podem catar-se, como os chimpanzés, banhar-se em lama e esfregar-se nas árvores, como os javalis, ou recorrer ao serviço de peixes que fazem a limpeza completa (a outros peixes). Mas quando a infeção é interna a estratégia tem de ser diferente. Os animais podem usar substâncias que funcionam como medicamentos, quer de uma forma preventiva quer terapêutica. Substâncias essas que até podem ser nocivas para os animais saudáveis.

Os investigadores verificaram que a formiga Formica fusca quando infetada com o fungo Beauveria bassiana, mudava os interesses alimentares e preferia a ingestão de produtos oxidantes, como o peróxido de hidrogénio (que compõe a água oxigenada). Os agentes oxidantes são nocivos para as formigas, mas a vantagem aqui é que também o são para o fungo. Este comportamento, que inibe a proliferação do fungo, permite que a formiga aumente a probabilidade de sobrevivência. Embora na experiência o peróxido de hidrogénio tenha sido disponibilizado às formigas, na natureza podem ingeri-lo quando consomem certas plantas, néctar ou cadáveres.

“Quando as formigas escolhem a dieta rica em radicais livres estão significativamente mais aptas a sobreviver. Além disso, as formigas escolhem a dieta rica em radicais livres depois de serem expostos ao fungo, mas não se não tiverem sido”, diz Dalial Freitak, investigadora na Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da Universidade de Helsínquia. “É fascinante descobrir que as formigas têm uma ideia do seu estado de saúde e que parecem ajustar a dose de medicamento a isso”, acrescentar o colega Nick Bos, primeiro autor do estudo.

Um estudo publicado em abril deste ano, na F1000Research (uma revista científica de revisão por pares aberta, open peer review) mostrou que os abelhões infetados com o parasita Crithidia bombi preferiam uma solução açucarada rica em nicotina, embora a nicotina seja nociva para os animais saudáveis que a consomem por longos períodos. Aparentemente, a nicotina ingerida pelos animais doentes retardou a progressão da infeção. Contudo, como não foram registadas melhorias na esperança média de vida dos abelhões, os investigadores são cautelosos na interpretação dos resultados.

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