A decisão de Alexis Tsipras de se demitir e pedir eleições antecipadas, depois de aceitar os termos do terceiro resgate, continua a dar dores de cabeça ao primeiro-ministro e ainda nem foi marcada a data para as eleições, com mais 53 membros do comité central do Syriza a demitirem-se, deixando fortes críticas a Tsipras, para se juntarem ao novo partido formado pela ala mais radical do Syriza.

As eleições ainda não foram marcadas, mas antecipa-se que calhem no final de setembro, perto da data das eleições legislativas portuguesas. Ou seja, daqui a menos de um mês. Até lá, com a oposição com uma fraca expressão, a luta de Alexis Tsipras parece ser cada vez mais com o seu próprio partido.

Esta quarta-feira, mais 53 membros do comité central do Syriza apresentaram a sua demissão e vão desvincular-se do partido, segundo a imprensa grega, para se juntarem ao partido Unidade Popular, do ex-ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis.

Entre estes 53 está, por exemplo, o eurodeputado Nikos Chountis. Pelo meio, escutam-se mais críticas a Tsipras, a quem não são perdoados os termos do resgate e, também, o facto de ter pedido a demissão do Governo sem discutir a decisão com o comité central do partido.

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O Syriza foi formado apenas em 2004 e é composto por uma coligação de movimentos, dos Verdes a antigos comunistas, daí apelidarem-se de coligação de esquerda radical. Alexis Tsipras tem afirmado publicamente que quer consolidar o Syriza como um partido sem radicalismos, mas depois de aceitar os termos do resgate muitos são os membros do partido que estão a desertar.

Estas deserções podem ainda não ter acabado e há uma grande decisão por conhecer, a do grupo dos 53, do qual faz parte o ministro das Finanças, Euclid Tsakalotos, e do porta-voz do Governo, Gabriel Sakellaridis. Aqui fica um resumo de algumas das divisões internas que já se conhecem:

Unidade Popular

Já se conhecia a intenção de formar um novo partido e a feroz oposição deste grupo à decisão de Tsipras de aceitar um novo resgate. O grupo é liderado pelo ex-ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, e inclui ainda Dimitris Stratoulis, ex-ministro do Trabalho. Ambos votaram contra o resgate no Parlamento, ainda como ministros.

Lafazanis fez história depois de ser conhecido o seu plano para tirar a Grécia do euro, apreendendo a reserva de notas do banco central e até prendendo o seu governador, em caso de desobediência.

O grupo, que levou consigo 25 deputados do Syriza que faziam parte da fação mais radical, conhecida como Plataforma de Esquerda, tem como programa muitas das promessas eleitorais do Syriza, como acabar com o resgate, implementar medidas de estímulo da economia, com a diferença de querer tirar a Grécia do euro, ainda que de forma “ordeira”.´

Do seu lado parecem ter o histórico do Syriza, e ex-eurodeputado, Manolis Glezos, uma figura muito popular na democracia grega pela oposição à invasão Nazi.

A Presidente do Parlamento

Zoe Konstantopoulou tem sido uma fonte constante de discórdia e de polémica. Depois de começar o seu mandato com medidas polémicas como proibir a polícia antimotim de usar as casas de banho do Parlamento (uma medida popular do lado dos manifestantes), a presidente do Parlamento foi sempre muito crítica, e de forma muito expressiva, da troika, do resgate e do seu próprio primeiro-ministro.

Não só votou contra o resgate, como fez tudo para evitar que a votação se desse, usando todos os expedientes parlamentares à sua disposição, o que obrigou a três votações já de madrugada no Parlamento grego.

Mais recentemente criticou a decisão de Tsipras de pedir a demissão e diz que eleições antecipadas não respeitam a democracia. Até acusou o Presidente da Grécia de contornar as regras para fazer cumprir a vontade de Tsipras. O Governo, do seu partido, acusa-a de se comportar como uma ditadora.

Zoe Konstantopoulou irá sair do Syriza, ao que tudo indica para formar um novo partido que pode correr em coligação com a Unidade Popular de Panagiotis Lafazanis. As promessas são as mesmas: contra o resgate, contra a austeridade e contra as decisões de Tsipras.

Os 53 que se demitiram

Hoje saíram mais 53 membros do comité central do Syriza em confronto com Tsipras, com o resgate e com a decisão de avançar para eleições antecipadas.

Este grupo diz que as decisões de Tsipras vão ser uma página negra na história da esquerda e devem juntar-se ao novo partido da ala mais radical do Syriza, o Unidade Popular. “Como membros do comité central não podemos servir um novo memorando que dará o golpe final num povo já destruído”, disse o grupo em comunicado.

A saída não é propriamente uma surpresa, uma vez que estes membros estavam alinhados com a Plataforma de Esquerda de Lafazanis.

Os 53 que ainda não decidiram

Dentro do Syriza há ainda uma grande incógnita. O chamado Grupo dos 53, uma das maiores fações do Syriza, politicamente entre a Esquerda Radical e o grupo mais moderado de Alexis Tsipras. Ainda não decidiu se quer entrar nas listas do Syriza para o Parlamento.

Este grupo tem um grande peso dentro do dentro do partido e o que decidir pode ter um grande impacto na orientação dos movimentos mais pequenos. Entre os seus mais conhecidos membros estão alguns dos confidentes de Tsipras, como é o caso do porta-voz do Governo, Gabriel Sakellaridis, e o atual ministro das Finanças, Euclid Tsakalotos.

A incógnita Varoufakis

Saiu dizendo que cedeu o seu lugar para que as negociações prosseguissem. Mudou o discurso para uma chantagem dos credores e rapidamente passou às críticas à decisão de Tsipras e à sua estratégia. O sempre polémico e muito mediático Yanis Varoufakis rejeitou fazer parte do Unidade Popular de Lafazanis, apesar de ter votado contra o resgate ao seu lado no Parlamento (literalmente).

O futuro político de Varoufakis é uma incógnita e para já vai-se limitando a fazer críticas ferozes à troika e ao Governo. Depois de rejeitar o Unidade Popular, Varoufakis também já disse que não aceita entrar nas listas do Syriza e no Governo para implementar mais um memorando em que não acredita.

As sondagens

A oposição está diminuída, mas não é por isso que o Syriza está a ganhar força, pelo contrário. A entrada na corrida do Unidade Popular e as divisões a que se assiste no partido, cada vez mais fragmentado, retiraram uma grande parte da vantagem que o Syriza tinha nas sondagens.

A mais recente dá o Syriza acima da Nova Democracia por apenas dois pontos, com 24% das intenções de voto. O novo partido com a ala mais radical do Syriza saltou em menos de uma semana para o quinto partido mais votado, com 4,5% das intenções de voto, sendo que está empatado nesta posição com o PASOK e o Partido Comunista grego (KKE).

A aposta de Tsipras depende em muito do que acontecerá ao seu partido, já que os restantes partidos não parecem estar a conseguir aproveitar as divisões dentro do Syriza, ou pelo menos de forma suficiente para retomarem o poder. Mas é preciso ter em conta o efeito de popularidade de Tsipras, que tem tido percentagens de aprovação sempre muito elevadas, as mais altas na Grécia.