Trata-se de um fax de 23 páginas, escrito em jeito de manifesto. Vester Lee Flanagan tinha andado sistematicamente a telefonar para a redação da ABC News, em Nova Iorque, a dizer que tinha uma história que queria publicar. Esta quarta-feira revelou finalmente qual era a história: acabara de matar a tiro dois jornalistas de um canal de televisão do Estado de Virgínia, seus ex-colegas. Duas horas depois de cometer o crime enviou um manifesto para a redação a explicar o que o moveu. Acabaria depois por morrer.

Vester Lee Flanagan, que se identifica como Bryce Williams, tanto diz ser uma vítima, que sofreu de discriminação, assédio sexual no trabalho e bullying por ser negro e gay, como admite sinais de perturbação mental (“Yeah I’m all fucked up in the head”, escreveu, no original e em linguagem menos própria). Diz que está “muito zangado” e que os seus principais agressores ao longo do tempo foram sempre “homens negros e mulheres brancas”.

As queixas contra os chefes e colegas da WDBJ7 são muitas, com Flanagan a afirmar que quando saiu da estação televisiva lhe foi feita uma oferta de trabalho num canal da Pensilvânia mas que a estação de Virgínia convenção os colegas a voltar atrás com a oferta.

“Estou mesmo zangado, e tenho todo o direito de estar. Mas quando deixar a Terra, a única emoção que quero sentir é paz… O tiroteio na igreja foi a gota de água, mas a minha raiva tem sido um acumular de situações. Há muito tempo que sou um barril de pólvora humano, esperem só até BOOM!”, escreveu no manifesto que ontem fez chegar à redação, e que foi logo enviado para as autoridades que estavam a tratar do caso.

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O documento chegou às mãos dos jornalistas cerca de duas horas depois de Flanagan ter morto a tiro a jornalista Alison Parker, de 24 anos, e o repórter de imagem Adam Ward, de 27, que estavam numa reportagem em direto na altura do crime. Assinado por “Bryce Williams” mas com um parêntesis a dizer que “o meu nome legal é Vester Lee Flanagan II”, o atirador começa o texto a dizer que se trata de “uma nota de suicídio para família e amigos”.

O motivo do atentado, segundo explica na carta, foi o tiroteio que ocorreu a 19 de junho na igreja de Charleston, na Carolina do Sul, quando o jovem Dylann Roof abriu fogo na igreja africana de Charleston matando nove pessoas. “As minhas balas têm cravadas as iniciais daquelas vítimas”, disse Flanagan.

Mas se a inspiração do ataque foi a “homenagem” às vítimas do tiroteio de Charleston, Vester Lee Flanagan também admite ter outra inspiração: o autor do massacre na Universidade de Virgínia em 2007. Na altura, Seung Hui Cho matou a tiro 21 estudantes universitários. Chama-o mesmo de “o seu rapaz”, e sublinha que Seung “conseguiu fazer quase o dobro do que Eric Harris e Dylann Klebold fizeram”, referindo-se aos atiradores que, em 1999, mataram 13 pessoas a tiro numa escola em Columbia. “Just saying”, acrescenta.