Um inspetor da Polícia Judiciária (PJ) está entre os 18 arguidos que vão começar a ser julgados em setembro, no Tribunal Judicial de Leiria, na sequência de uma investigação por furto, viciação e recetação de viaturas realizada pela GNR.

Ao inspetor do Departamento de Investigação Criminal de Leiria da PJ, suspenso de funções, estão imputados os crimes de corrupção passiva e associação criminosa.

Segundo o despacho de acusação, confirmado por um juiz de instrução, o inspetor, que estava “na secção que investiga furto, tráfico e viciação de viaturas”, receberia pagamentos mensais de 1.500 euros de dois arguidos (que detivera no passado) para não investigar a atividade daqueles e avisá-los de eventuais investigações da PJ. O valor duplicava no Natal, Páscoa e no aniversário do inspetor.

Em julgamento vão estar também dezenas de crimes de furto, simples e qualificado, falsificação de documento agravado, tráfico de estupefacientes, incêndio a meio de transporte, corrupção ativa, detenção de arma proibida e recetação.

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No despacho lê-se que seis acusados combinaram proceder à subtração aos seus proprietários de viaturas que fossem encontrando pelo país, para depois proceder à sua venda a terceiros, inteiras ou por peças após o desmantelamento.

Dois destes elementos eram supostamente responsáveis por dar instruções aos restantes sobre, por exemplo, as características dos veículos a furtar, quando deveria ocorrer, por quem e o modo de o fazer.

As instruções incluíam a espera “após as subtrações, de modo a apurar se as viaturas possuíam localizador”, o seu local de armazenamento e eventual desmantelamento, ou a colocação de diferente matrícula.

Decorrido o “compasso de espera”, os arguidos que furtavam os veículos conduziam-nos para um armazém e uma residência, ambos em Mira de Aire, Porto de Mós, e para uma sucateira em São Mamede, Batalha.

A subtração das viaturas ocorreu, pelo menos, de outubro de 2013 a setembro de 2014, refere o Ministério Público (MP), que elenca mais de 40 furtos ocorridos entre fevereiro e setembro do ano passado em diversos distritos do país.

O MP considera que aqueles seis acusados e mais três, incluindo o inspetor da PJ, faziam parte de uma organização “dirigida à prática de crimes de furto a viaturas”, chefiada pelos dois elementos que davam as instruções e supostos corruptores.

Por diversas vezes, os encontros entre estes dois elementos e o inspetor, nos quais eram entregues as quantias e este informava se deviam estar “alerta” ou “descansados”, decorriam num restaurante em São Mamede.

O homem que explorava o estabelecimento, “intermediário na combinação dos encontros”, circulava numa viatura furtada e com matrículas falsas. Foi suspeito num inquérito investigado pelo inspetor que não o constituiu arguido por aqueles factos, refere o MP.

O MP relata, ainda, a entrega de um relatório de informação da GNR à PJ, que o inspetor recebeu e, no dia seguinte, telefonou para um dos alegados pagadores. O relatório pedia eventuais informações sobre o outro envolvido.

Dos arguidos, com idades entre os 22 e 73 anos, três estão detidos preventivamente e outro obrigado a permanecer em casa.

O julgamento, com 103 testemunhas, está previsto iniciar a 16 de setembro.