A noite de Coimbra era noite de sarar feridas. Num e noutro lado. O Sporting não vence há dois encontros seguidos. Os leões empataram (1-1) no último jogo da Liga, em casa, contra o Paços de Ferreira, mas pior – para o ânimo e para os cofres de Alvalade —  também perderam na Rússia, não vão à Liga dos Campeões e “deixaram” 12 milhões de euros em Moscovo. A Académica não vive dias melhores, diga-se. No campeonato, conta por derrotas os dois jogos realizados, contra o Paços de Ferreira e o Vitória de Setúbal.

Sporting: Rui Patrício; Ricardo Esgaio, Paulo Oliveira, Naldo e Jefferson; Adrien Silva, João Mário, Carrillo e Carlos Mané; Slimani e Teó Gutiérrez.
Académica: Lee; Nii Plange, Ricardo Nascimento, João Real e Emídio Rafael; Fernando Alexandre, Obiora e Rui Pedro; Bouadla, Ivanildo e Rabiola.

O Sporting entrou com vontade de resolver logo o assunto. E resolveu. Seis minutos contados no cronómetro do árbitro Bruno Esteves, e logo Carlos Mané — que “sentou” Bryan Ruiz no banco —  inaugurou o resultado. Adrien Silva, novamente na posição “6”, mas sem as preocupações defensivas do jogo de Moscovo, adiantou-se no meio-campo, viu Mané a desmarcar-se da esquerda para o centro e passou-lhe a bola para as costas dos centrais da Académica. Com o extremo do Sporting veio quem o marcava na lateral dos estudantes, Nii Plange — que até já foi jogador do Sporting “B” e colega de balneário de Mané —, que não teve corrida para a velocidade do português. Carlos Mané rematou cruzado, Lee, o guarda-redes da Académica, fez-se à relva, esticou-se todo, mas o seu braço direito não foi comprido o suficiente para desviar o remate. 1-0 para o Sporting.

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A Académica queria jogar num 4x3x3 ofensivo, com Rui Pedro, bom de pés, a ser o “10”, Ivanildo e Bouadla abertos nas alas do ataque e Rabiola na frente, sozinho, à espera de uma bola que lhe chegasse para desviá-la para golo. A Académica queria, mas o Sporting obrigou José Viterbo a ter que fazer um novo esquisso do desenho tático dos estudantes. É que a manta era curta, e se a Académica se aventurasse muito na frente, com a velocidade de Jefferson à esquerda — que é quase um extremo quando não tem um avançado que o incomode a defender –, e sobretudo Carrillo na direita, ia destapar a defesa e pôr-se em problemas. Viterbo lá viu que o melhor era que Ivanildo pressionasse sozinho, que Rabiola fechasse mais ao centro, que Rui Pedro derivasse para uma lateral, que Bouadla se fixasse na outra e que Fernando Alexandre e Obiora fossem os médios mais recuados. Viterbo não pedia a Alexandre e Obiora que construíssem jogo, mas que destruíssem o que o Sporting tentava construir — de preferência bem próximos dos centrais dos estudantes.

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Ricardo Esgaio substituiu João Pereira no onze, ele que foi expulso no último jogo da Liga, ao cometer um penalti sobre Cícero do Paços de Ferreira. E o miúdo entrou com vontade de agarrar o lugar no seu regresso a Coimbra, onde jogou na última temporada por empréstimo do Sporting. Aos 15′, Esgaio galga metros sobre a direita, vê Carrillo a ganhar a frente a Emídio Rafael, entrega-lhe a bola, o peruano cruza, não para a confusão de corpos e de cabeças na área, mas para fora da área. Quem lá vinha, a correr em direção à bola, era João Mário. Até dava a ideia de que ia encher o pé, mas não, o remate saiu fraco e frouxo, para defesa de Lee com os pés.

A Académia não fez um só remate à baliza de Rui Patrício na primeira parte — nem na segunda, mas a seu tempo lá chegaremos. Nem se lhe abeirava muito. O Sporting controlava o jogo e a bola mantinha-se perto da grande área academista. E quanto tinha ocasião de rematar, o leão rematava. Aos 24′ fez o 2-0. E que golo que foi. Carrillo vem de novo em sprint pela direita, Emídio Rafael voltou a não ter pernas para o peruano, este centrou para dentro, onde Slimani vinha a desmarcar-se, mas a bola ressaltou em João Real. Sorte ou não, a verdade é que a bola foi mesmo ter com o argelino, que, à saída de Lee — o brasileiro de apelido asiático saltou que nem um ninja — lhe fez uma “chapelada”.

Os estudantes, sem saber ler nem escrever, sem um só remate que se lhes visse, fizeram-se doutores do golo, e logo na única vez que pisaram a relva da área de Patrício. Leandro Silva não só a pisou, como a foi conhecer de perto e caiu nela. Penalti, disse o árbitro. A jogada teve início em Rabiola, o ponta-de-lança, longe da área, descaído sobre a esquerda, viu Leandro a correr lado a lado com Adrien, tocou a bola para área, Adrien chegou primeiro que Leandro, cortou a bola, mas com o corte, no seguimento do lance, atirou para o chão o médio emprestado pelo Futebol Clube do Porto. O Sporting contestou a decisão, mas a verdade é que Rabiola, na conversão, fez o 2-1 aos 33′. Patrício ainda acertou no lado, mas o remate, forte e colocado, não lhe deu hipótese de defesa. ´

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Esperava-se, talvez, que a Académica crescesse, que o Sporting se encolhesse, desconcentrado, mas não. E os leões responderam ao golo logo a seguir. Esgaio e Carrillo entendiam-se às mil maravilhas, o português voltou a desmarcar o peruano em velocidade, Carrillo cruzou para a área, Fernando Alexandre cortou a custo, para trás, e Esgaio, que vinha embalado, rematou logo dali, de longe, com o pé canhoto, que nem é o seu melhor. Lee defendeu como pôde, para o lado, Teó ainda fez a recarga, mas à malha lateral da baliza.

O Sporting insistia, a Académica resistia. Em cima do intervalo, aos 45′, João Real derrubou Slimani na área. Foi Esgaio quem cruzou para o argelino, entre Ricardo Nascimento e Real, os centrais da Académica. É o segundo quem se faz à disputa da bola com Slimani, desliza no relvado, toca na bola e toca no ponta-de-lança do Sporting (ao contrário de Adrien, no lance anterior, João Real foi mais imprudente e impetuoso), num lance que fez Jesus irritar-se no banco. O treinador foi “aquecer as orelhas” ao auxiliar, este avisou o árbitro, e Bruno Esteves expulsou-o. Intervalo, sem penalti e sem Jesus na segunda parte.

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Mas se Jesus não vai ao banco, Bruno de Carvalho (que não foi expulso, diga-se) também não, e os dois viram o jogo desde a bancada, logo atrás do banco – uma pista de tartan separava-os de Raúl José, o adjunto. Com ou sem Jesus, o Sporting, tal como na primeira parte, tomou conta do jogo e da bola. João Mário, omnipresente, via-se em todo o lado, à direita, ao centro e à esquerda. E foi, nem de propósito, desde a esquerda que veio, aos 60′, a calcorrear metros em direção à área e rematou de canhota em direção à baliza. Saiu cruzado e forte o remate de João Mário, mas ao lado. Lee não ganhou para o susto.

Este foi o jogo dos penaltis. Os que não existiram e se assinalaram. Os que, existindo, não se assinalaram. E os que, existindo e assinalados, foram falhados na conversão. Aos 68′, João Mário deriva com um passe preciso a bola de um lado ao outro do relvado, Carrillo recebe-a, deixa em Mané na entrada da área, o português remata em direção à baliza, mas o remate esbarra no braço de Fernando Alexandre. Na conversão, Lee foi para a esquerda, Adrien atirou para a direita, tão à direita que a bola tocou no poste e saiu.

O que é que faltava mais em termos de penaltis? Os que, existindo e sendo assinalados pelo árbitro, foram convertidos, pois claro. E foi novamente Fernando Alexandre — que viu cartão vermelho e foi expulso depois deste lance — quem voltou a usar as mãos para fazer falta. Não foi a bola que lá lhe tocou, mas foi ele quem, com os braços, segurou a camisola de Slimani pelas costas, quando este se esgueirava para o interior da área. Jesus estava longe, mas ouviu-se-lhe o berro: quem marca é o Aquilani! – que tinha entrado pouco antes. E marcou. 3-1. Bola para um lado, guarda-redes para o outro, com toda a serenidade.

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O jogo terminaria logo depois. O Sporting fez por vencer, criou oportunidades, a Académica não, e o resultado é justo. José Viterbo, que na ultima temporada salvou a Académica da descida em cima do gongo, tem plantel para fazer mais e melhor. Os estudantes têm três derrotas em três jornadas, mas pior, não defendem bem nem atacam melhor. Ou melhor: não atacam de todo. O Sporting, por sua vez, foi competente, dominou, soube controlar o jogo e os tempos do jogo, e fez por sarar as feridas de Moscovo. O leão é líder juntamente com o Futebol Clube do Porto e o surpreendente Arouca, todos com sete pontos. Jorge Jesus, expulso esta noite, não deverá estar no banco do Sporting no jogo contra o Rio Ave, em Vila do Conde, a 13 de setembro.

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