O jornalista moçambicano Paulo Machava foi assassinado na sexta-feira em Maputo, quando fazia uma corrida matinal entre as 5h30 e as 6h00. O canal de televisão TVM Moçambique disse que se tinha tratado de um “assassinato macabro”: o editor do jornal Diário de Notícias foi morto com quatro tiros nas costas e os atiradores estavam dentro de uma viatura, que arrancou logo depois, conta o The Guardian.

O crime está a ser investigado, mas sabe-se que o jornalista tinha dado o seu apoio ao economista Nuno Castel-Branco e os jornalistas Fernando Veloso e Fernando Banze, que estão sob acusação de atentar contra a segurança do Estado. Em 2013, o economista publicou um post no Facebook onde criticava o ex-presidente Armando Guebuza e os dois jornalistas noticiaram o conteúdo do post.

Carlos Nuno Castel-Branco acusou Armando Guebuza de querer “fascizar” o país, de este estar “fora do controlo” e de ter empurrado o país para a guerra, referindo-se aos confrontos que se travavam entre as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas e o braço armado da Renamo, principal partido de oposição, como noticiou a Lusa.

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Os  Comité para a Proteção dos Jornalistas já veio dizer que está “revoltado” com o assassinato e pediu às autoridades que investigassem o crime “de forma eficiente”, que identificassem o motivo e julgassem os assassinos. A cooordenadora para o programa africano, Sue Valentino, disse que este assassinato “não tinha lugar num país que estava a construir uma democracia que emergiu de um conflito civil há duas décadas”, conta o The Guardian.

“Instamos as autoridades a abrirem rapidamente uma investigação clara e rigorosa para clarificar a causa do assassinato e identificar os culpados e a mente por detrás deste crime. Não haverá impunidade para este crime ultrajante”, disse o presidente da Federação Internacional de Jornalistas, Jim Boumelha, do qual Machava era membro fundador.

De acordo com o portal Sapo Moçambique, Paulo Machava estava a organizar uma manifestação contra o julgamento de Carlos Nuno Castel-Branco e dos dois jornalistas, marcado para esta segunda-feira. Mas essa informação já foi contestada. Em declarações ao Confidencial, Armando Nenane, um dos organizadores da manifestação, afirmou que “Paulo Machava nunca fez parte da organização da marcha contra a liberdade de expressão.”

O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, também já reagiu, criticando o governo e afirmando que está a ser feito tudo “para criar um clima que propicie o silêncio das vozes contrárias ao regime no poder”, segundo a Radio France Internationale. Daviz Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique defendeu a liberdade de imprensa como uma “necessidade” para que se possa “viver em paz e harmonia” em Moçambique.

Antes de ter fundado o jornal online Diário de Notícias, Paulo Machava trabalhou para a Rádio Moçambique e para o semanário Savana.