N.R. Este texto foi escrito na manhã de 1 de setembro, depois do comunicado do Banco de Portugal e depois de ter sido amplamente noticiado que a Apollo seria a próxima entidade a negociar com o Banco de Portugal. O Observador assumiu como boa a informação que foi publicada e nunca desmentida que esta seria a segunda melhor proposta em cima da mesa. A nova informação obriga-nos a pedir desculpa aos leitores – e a rever com redobrado cuidado os próximos passos desta negociação. Continuaremos, por isso, a pedir esclarecimentos adicionais ao Banco de Portugal e a dar disso conta a todos.

Foram os únicos que, no início de agosto, melhoraram a proposta pelo Novo Banco, a convite do Banco de Portugal. Os norte-americanos da Apollo Global Management começaram por correr por fora mas terão, agora, após o fim das negociações com os chineses da Anbang, oportunidade para negociar direta e exclusivamente com Carlos Costa a compra da instituição financeira nascida da resolução do Banco Espírito Santo. E os senhores que se seguem já cá estão: quiseram comprar a Fidelidade (perdendo para a Fosun), cobiçaram a AXA Portugal mas ficaram apenas com a Tranquilidade. Pelo Novo Banco, oferecem menos do que a Anbang mas exigem menos salvaguardas para o futuro. Admitem uma fusão com o BPI e uma venda em bolsa que possa ampliar o encaixe para o Fundo de Resolução, mas mais tarde.

Afastada a proposta da chinesa Anbang Insurance, ao cabo de intensas negociações que não chegaram a bom porto, o Banco de Portugal passa, agora, a negociar com a Apollo. Segundo o caderno de encargos, essa negociação dura, no máximo, sete dias. Mas é possível que este prazo seja dilatado porque também houve mais do que sete dias para negociar com a Anbang. Do lado da Apollo, a proposta tem validade até final do mês, o que também não inviabiliza que o prazo possa ser alargado.

Os chineses da Anbang queriam, além de rentabilizar o ativo que é o Novo Banco, utilizar a instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha para entrar no mercado bancário europeu. A Fosun, cuja proposta – ainda que a mais baixa – continua “integralmente válida”, tem a mesma intenção. A Apollo, por seu turno, é uma gestora de private equity, o que tipicamente pressupõe uma abordagem mais cirúrgica na forma de reestruturar o banco e maximizar o seu valor, potencialmente vendendo mais tarde para realizar um lucro com este investimento.

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Aumento de capital e fusão com o BPI?

O que esperar da Apollo caso saia vencedora neste processo? No início de agosto, as notícias apontavam para uma possibilidade de que a Apollo Global Management tentasse, caso comprasse o Novo Banco, achar um parceiro português para uma possível fusão da instituição. O Diário de Notícias escreveu que o BPI era o favorito para se juntar ao Novo Banco, o que poderia fazer-se por ocasião de uma dispersão em bolsa do capital do banco que serviria, também, para obter fundos para aumentar o preço pago ao Fundo de Resolução.

A estratégia da Apollo seria vender todas as operações no estrangeiro e focar-se no negócio português e, em especial, no crédito às empresas. Nos primeiros cinco anos após uma eventual compra, a Apollo admite investir cerca de 14,5 mil milhões de euros na reestruturação da instituição, um investimento cujos frutos começariam a ser recolhidos antes do final desses cinco anos.

A dispersão em bolsa do capital da instituição seria uma oportunidade para promover uma fusão ou, no mínimo, uma parceria, com o BPI. A oferta da Apollo, entidade que gostaria de manter Eduardo Stock da Cunha à frente da instituição, poderá incluir cláusulas que potenciem o reembolso ao Fundo de Resolução caso o plano decorra como está a ser concebido, de forma a limitar as perdas para o Fundo de Resolução e, portanto, para os outros bancos.

É provável que a Apollo saia vencedora?

Durante as negociações com a Anbang, fontes próximas do processo indicaram à imprensa económica que o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, estava a tentar que os chineses abrissem mão de algumas condições “complexas” que, por via de contingências futuras, poderiam ampliar as responsabilidades futuras do Fundo de Resolução, cujos associados são os bancos do sistema.

Como “plano B” estava a Apollo, que surgia com a segunda maior proposta financeira e com a disponibilidade para participar em soluções que não passem pela venda direta – já – do Novo Banco. Segundo a imprensa, a Apollo admite, por exemplo, um cenário em que a gestora entra no capital do Novo Banco aproveitando o aumento de capital que terá de ser feito na instituição para corresponder às exigências dos reguladores e para passar nos testes de stress de novembro.

É certo que essa possibilidade corresponderia, na realidade, a um cancelamento do processo que decorre há nove meses, já que não se trataria de uma venda direta mas uma solução por fases e, necessariamente, mais demorada. Algo que não agrada ao governo, que preferia ver este assunto arrumado antes das eleições e que acredita que quanto mais se espera mais desvalorizado ficará o ativo.

Com a Comissão Europeia está acordado um prazo máximo de dois anos para vender o Novo Banco, instituição em que foram injetados 4.900 milhões de euros pelo Fundo de Resolução (composto pelos outros bancos do sistema), em parte graças a um empréstimo estatal de 3.900 milhões.

A Apollo oferece menos dinheiro “à cabeça” do que a Anbang, mas os chineses exigiram mais garantias futuras para se protegerem de reavaliações de ativos e riscos judiciais no Novo Banco. O Diário Económico noticiou a 18 de agosto que os chineses da Anbang ofereciam cerca de 3.500 mil milhões de euros, o que não chegaria sequer para reembolsar já o empréstimo estatal. Mas a Anbang queria um desconto no preço caso tivessem de fazer um aumento de capital superior ao previsto.

Com sede em Nova Iorque e lançada no início da década de 90, o Apollo descreve-se como um dos maiores fundos de investimento independentes com ativos de 163 mil milhões de dólares (147 mil milhões de euros) sob gestão e uma equipa de 870 profissionais. Imobiliário e serviços financeiros e de crédito, são as grandes apostas do portefólio onde não há, pelo menos recentemente, aquisições tão sonantes como as realizadas pelos concorrentes chineses. Compraram, em 2013, o EVO Banco espanhol e, mais recente, investiram no alemão BKB Bank.

E qual é o “Plano C”?

Chama-se Fosun, a dona da Fidelidade e que, segundo notícias, tem a oferta mais baixa. A nacionalidade do vencedor do Novo Banco foi sempre apontada como uma fragilidade na solução Anbang, não só por causa do colapso dos mercados chineses, mas também por preocupações regulatórias. Ainda recentemente, o Financial Times admitia que o Banco de Portugal poderia recuar no negócio por recear um cartão amarelo ou mesmo vermelho do Banco Central Europeu à passagem de controlo de um grande banco de retalho nacional para mãos chinesas.

Até agora, os investimentos autorizados no setor tem envolvido instituições bancárias de menor dimensão local. Se o aval do BCE não é estritamente necessário à operação porque o NB é um banco de transição, dificilmente o Banco de Portugal poderá dar-se ao luxo de ignorar reservas vindas de Frankfurt já que o BCE passará a supervisionar a instituição quando tiver um investidor privado.

A Anbang e a Fosun partilham mais do que a nacionalidade. São conglomerados com presença em vários setores e companhias, com enfoque principal no negócio segurador (sobretudo no caso da Anbang). Têm promovido estratégias agressivas de aquisições internacionais, que assegurou uma expansão rápida dentro e fora da China. É um modelo de negócios que os analistas insistem em comparar com a Berkshire Hathaway, a empresa do milionário americano Warren Buffett.

Processo já dura há nove meses

O processo de venda do Novo Banco arrancou há nove meses, em dezembro de 2014 com a recolha de manifestações de interesse no total de 17. O Banco de Portugal aceitou 15 interessados no Novo Banco. O número foi reduzido para nove quando em março ficou fechado o grupo de entidades que confirmaram o seu interesse na aquisição. Em abril, foram apresentadas sete propostas não vinculativas, mas só cinco foram aceites. O BPI foi um dos que ficou de fora, embora o supervisor nunca tenha ao longo de todo o processo identificado os candidatos.

A 30 de junho, o número de concorrentes ficou reduzidos a três. E a 7 de agosto, o Banco de Portugal recebeu as três propostas finais, mas apenas uma melhorada. Na quarta-feira passada, o Banco de Portugal confirmou a seleção de um concorrente para a negociação. Indicando que a decisão final seria tomada até ao termo de agosto, o que não se confirmou.