A Albânia não perdeu um só jogo nesta qualificação para o Euro ’16. Portugal sim, perdeu um — e precisamente contra os albaneses, em Aveiro. A vitória dos portugueses esta noite, lá longe, na Albânia, e depois do empate da Dinamarca contra a Arménia (os dinamarqueses, antes do jogo começar, tinham os mesmos 12 pontos que Portugal e no próximo jogo viajam até ao Estádio AXA, em Braga), não nos garantiria desde já o apuramento, mas permitir-nos-ia, pelo menos, fazer a pré-reserva dos bilhetes para ir a França no próximo verão jogar com os melhores da Europa.

O problema é que a noite no Elbasan Arena, estádio velhinho, pequeno, mas à pinha, com 12 mil albaneses desertos de ver a sua nação, pela primeira vez, numa fase final, não se adivinharia fácil. Os futebolistas albaneses, de apelidos quase impronunciáveis para nós, com ar de pugilistas dos Balcãs, daqueles que franzem o sobrolho e até medo treme de medo deles, queriam fazer-lhes a vontade. Não são futebolistas de vir na caderneta de cromos, não lhes reconhecemos o rosto, menos ainda a inscrição que trazem na camisola, mas tal como os sérvios, os montenegrinos, os bósnios ou os croatas, a verdade é que naquela região não se trata mal a bola, não senhor. Portugal ia ter que suar as estopinhas.

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Albânia: Berisha; Djimsiti, Cana, Ajeti e Agolli; Kukeli, Xhaka e Abrashi; Gashi, Lenjani e Çikalleshi.
Portugal: Rui Patrício; Vieirinha, Pepe, Ricardo Carvalho e Eliseu; Danilo Pereira, Miguel Veloso e Bernardo Silva; Nani, Danny e Cristiano Ronaldo.

O jogo não lhe corria de feição. Ronaldo tentava, colado à linha, desde a esquerda, furar a defensiva albanesa, tentava o remate à baliza, mas caiam-lhe sempre dois ou três albaneses em cima, durinhos, e caía também Ronaldo ao chão. Noite maldita, não acertava um passe que fosse, baliza nem vê-la, e de Ronaldo só se via (e ouvia) o seu praguejar. Maldita ou não, se alguém haveria de rematar esta noite, haveria de ser ele. E foi. Aos 12′, quando o jogo se via mortiço, longe das balizas, com albaneses e portugueses a contarem espingardas, mas sem um só tiro disparado, eis que Cristiano Ronaldo resolveu, logo dali, do meio da rua, com a baliza à frente, usar da sua melhor arma, o remate, e atirar para golo. Defendeu a custo Berisha para canto. E do canto, logo em seguida, marcado por Danny, Danilo Pereira desviou a bola no primeiro poste, ela seguiu para o segundo, e lá estava Nani, a desviar de novo, mas para o ferro. Que maldito ferro! E que perigo…

Aos 39′, Ronaldo usou do papel químico, e rematou, do mesmo sítio que antes, com a mesma força que antes, tudo igual, e, como antes, Berisha defendeu para canto. Até final do jogo, e ainda faltava um tanto, não se viu em Elbasan um remate mais, o que se viu foram umas arrancadas frouxas de Ronaldo, a classe de Bernardo Silva a fogachos e o acerto defensivo de Pepe, que evitava males maiores. O demais foi um aborrecimento.

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A segunda parte foi, no mínimo, mais animada. Tanto no relvado como nas bancadas. É que os albaneses, de quem se dizia que eram fervorosos, mas que mal se escutaram no começo do jogo, fizeram-se ouvir (e muito) após o intervalo. A primeira ocasião de perigo, contudo, até foi de Portugal, que não se encolheu com o fervor que chegava do Elbasan Arena. Cédric (que entretanto entrou para o lugar de Vieirinha) foi à linha, não tinha espaço para cruzar, voltou atrás, e cruzou mesmo, de canhota, para o segundo poste. Surgiu lá ao fundo Danny, para rematar de cabeça, sozinho, sem um só albanês que o desestabilizasse, mas rematou ao lado. Foi aos 56′.

O ferro, que foi maldito para Nani e para Portugal na primeira parte, foi bendito para os de cá e para Rui Patrício na segunda. Aos 75′, Abrashi encheu a canhota, rematou com vontade, a “vontade” dele ainda ressaltou nas costas de Pepe, e a bola foi caprichosamente bater no poste. O jogo estava num ritmo endoidecido. Portugal respondeu logo depois, Ronaldo viu Eliseu a correu por ali acima, a galgar o flanco todo, desmarcou-o, e o lateral do Benfica, cara a cara com Berisha, picou-lhe a bola por cima. O remate saiu largo, largo, tão largo que foi para fora, ao lado do poste esquerdo.

É sina. Sofrer, sofrer até ao fim, e depois alguém resolver. Resolveu um herói improvável. Miguel Veloso não era titular com a camisola das quinas desde o Mundial no Brasil. Regressou hoje ao onze, saltou mais alto que os 21 homens que com ele partilharam o relvado, e cabeceou a bola, aos 91′, depois de um canto de Quaresma, lá para dentro, em direcção a França, em direcção ao Euro ’16. Ainda não está, ainda falta o jogo com a Dinamarca e a ida à Sérvia, mas falta pouco. Muito pouco. Um pontinho só.