A sala Suggia da Casa de Música, no Porto, está praticamente esgotada para a estreia mundial, na noite de sábado, da primeira ópera de Francesco Filidei, “Giordano Bruno”, sobre o filósofo italiano queimado pela Inquisição em 1600.

Para o encenador, Antoine Gindt, a história de Giordano Bruno “é algo que concerne à atualidade”, isto porque se tratou de um “homem que tinha um pensamento que ninguém aceitava, ou seja, o seu pensamento é de tal forma livre que a Inquisição não quer aceitá-lo por dogmatismo, mas o papa também não por falta de cultura”.

“Todas estas questões da liberdade de pensamento dizem-nos respeito hoje. Hoje, muitas coisas são muito dogmáticas. (…) O fanatismo religioso é quase pior hoje do que com a Inquisição. Nada mudou, infelizmente, mas todas estas zonas de intolerância de Giordano Bruno podem ajudar-nos a refletir”, disse à Lusa Gindt.

Filidei explicou, a sorrir, que na origem da composição esteve a sua intenção de “queimar alguém”, tendo chegado à figura de Bruno com a ajuda do amigo Stefano Busellato, que veio a redigir o libreto.

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Em conversa com a Lusa, Filidei dá um estalo sobre a mesa para esclarecer a motivação por trás do seu trabalho: “Este gesto simples, a ligação entre carne, coisa viva, e madeira, objeto inanimado morto. Entre a vida e a morte, com o fogo, chegamos a algo que se acende”.

A ópera, encomenda do Théâtre & Musique Paris e Casa da Música com o apoio de Ernst von Siemens Music Foundation e Réseau Varèse, vai ter direção musical de Peter Rundel com interpretação musical pelo Remix Ensemble este ano.

“Filósofo, escritor e monge dominicano, Giordano Bruno morreu na fogueira, queimado vivo por ordem da Inquisição no dia 17 de fevereiro do ano da Graça de 1600. Acusado de defender opiniões contrárias à fé católica, entre as quais a tese do universo infinito, Giordano Bruno ousou transgredir as crenças instituídas em nome da verdade”, recorda a Casa da Música.

A ópera segue do Porto para Estrasburgo, em França, Reggio Emilia e Milão, em Itália, antes de voltar a França, já em 2016.