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Duas noites com Angel Olsen em Lisboa

Este artigo tem mais de 5 anos

Dois concertos de canções assombradas e melancólicas: a "folk" de Angel Olsen faz-se de um desassossego permanente. Que poderá continuar, na residência permanente na ZDB.

Angel Olsen deu dois espetáculos esta semana, em Lisboa. Melancolia com um sorriso
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Angel Olsen deu dois espetáculos esta semana, em Lisboa. Melancolia com um sorriso

© Vera Marmelo

Angel Olsen deu dois espetáculos esta semana, em Lisboa. Melancolia com um sorriso

© Vera Marmelo

Dois concertos, duas salas esgotadas. Foi assim que Angel Olsen se apresentou em Lisboa, pela primeira vez em nome próprio. A estreia, muito aguardada tanto pelo público como pela norte-americana – que andava a adiar a vinda há alguns anos, como contou durante o primeiro concerto na Trienal de Arquitectura -, não podia ter corrido melhor.

O feitiço das canções de Olsen – que o ano passado publicou o bem recebido “Burn Your Fire for no witness” – convenceu a maioria dos que esgotaram os dois concertos (Trienal e Galeria Zé dos Bois) que deu na capital portuguesa. E a sua versatilidade, que lhe permite mover-se tanto em territórios de rock como em folk confessional e intimista, foi um dos trunfos que lhe valeu o duplo sucesso.

Dia 1º – A conquista da Trienal de Arquitetura

Já passava das 21 horas quando Angel Olsen e a sua banda subiram ao palco da Trienal de Arquitectura. No primeiro dos dois concertos dados por Olsen em Lisboa, o público, que a aplaudiu à chegada, esperava-a maioritariamente sentado – foram ainda alguns os que se levantaram para lhe dar as boas vindas, mas rapidamente se voltariam a sentar. Só mais tarde o mesmo público (que a norte-americana inicialmente elogiaria pelo silêncio e respeito demonstrado pelas suas canções) se levantaria de novo, desta feita de vez, e em conjunto.

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Angel Olsen abriu com “Free”, do disco “Half Way Home”. No fim da canção surgiam os versos que dariam o mote: “Fear, oh, gets the best of me at night / Where is the one who holds me tight? / Can only reach him in my mind / Oh, my mind”. E a apresentação não podia ser melhor: em todo o concerto Angel Olsen, maioritariamente acompanhada mas também sozinha (a certa altura os músicos saíram de cena), ia cantando a Lisboa os seus fantasmas, inseguranças e desencontros amorosos que as canções descrevem. Ao mesmo tempo, ia-se mostrando conversadora, com várias tiradas irónicas que ajudavam a quebrar a tensão que as suas canções provocam (e de que se alimentam).

Angel Olsen oscilou entre um registo mais suave – mas nada leve, pela densidade que as canções impõem –  e um registo mais expansivo, que lhe valeu momentos de maior intensidade rock. Terá sido essa a maior diferença para o concerto do dia seguinte, na Galeria Zé dos Bois: tocar com banda permitiu-lhe intercalar canções mais suaves com outras mais expansivas, maioritariamente vindas do último disco: assim foi com “High and wild”, “Forgiven/Forgotten” e mesmo com “Hi-Five”, por exemplo. E foi precisamente com “Lights Out”, desse mesmo disco, que Angel Olsen conquistou de vez o público lisboeta – que não mais perderia até ao fim do concerto.

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E fechava em beleza, com uma belíssima versão de Bruce Springsteen (“Tougher than the rest”) e duas ternas canções de “Burn Your Fire for no witness” – “Iota” e “White Fire” (esta última evoca, inevitavelmente, a música de Leonard Cohen, pela tensão e solenidade do tema). Angel Olsen despedia-se mas regressaria ainda para um curtíssimo encore, de um tema apenas: “Miranda”, de “Half Way Home”, que começaria com “You have the right to remain silent / Anything you say or do / Will be held against you / in a court of law”.

E assim terminava a primeira noite de Angel Olsen em Lisboa. Com o fim de um concerto em cheio, que muitos aguardavam (e que, pela diminuta lotação do espaço, muitos terão perdido), onde pudemos ver uma singer-songwriter de enorme talento, que faz de canções profundamente tristes canções que emocionam pela beleza. E quando, na noite seguinte, contou ao Observador que até se conseguia rever num género como o fado, não duvidámos disso nem por um segundo: encaixaria bem, com a sua melancolia e a poderosa voz, que conhece bem o peso das palavras que canta.

Dia 2º- “À volta de uma fogueira” com Angel Olsen na ZDB

Segunda noite, segunda casa cheia. Angel Olsen, desta vez sem o apoio da banda, conseguiu preservar a intensidade do espetáculo. A ocasião foi mais intimista e pessoal, e Olsen tinha histórias para contar e mais charme para espalhar. Foi nesse espírito que a artista norte-americana subiu ao acolhedor palco do aquário da Galeria Zé dos Bois (ZDB), dia 9 de setembro, apenas acompanhada por uma guitarra, para reforçar o que tinha começado um dia antes: uma história de amor com o público português.

À hora marcada, o concerto ainda não tinha começado, mas já se sentia a expetativa no ar. Até Olsen subir ao palco, o público falava ensurdecedoramente sobre o concerto do dia anterior – uns porque estiveram presentes e outros porque lamentavam a ausência.

Olsen, recebida com aplausos, subiu ao palco por volta das 22h15. Arrancou com “Safe In The Womb” e, num tom confessional, disse que “aquela foi a primeira canção que escreveu”. A norte-americana queria conversa e, entre flirt e humor, tentou puxar por um público calado mas atento. Entre canções, Olsen contava histórias e quebrava o gelo do peso emocional das músicas com piadas sobre os “furiosos taxistas portugueses” e a postura silenciosa do público. Apesar da timidez da audiência, Olsen agiu como se todos estivessem ao redor de uma fogueira. Um dos momentos mais caricatos do concerto ocorreu quando Olsen deu tempo a um membro da plateia para ir buscar a cerveja, prometendo que “não iria tocar enquanto não voltasse”.

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Musicalmente, Angel Olsen abandonou o registo rock e fez um roteiro pelas baladas da sua carreira, aproveitando para repescar canções mais antigas que, confessou a artista em palco, “precisou de pesquisar no Google para se relembrar delas”. Dessa viagem ao passado saiu um dos momentos da noite: “Some things cosmic”, do disco “Strange Cacti” (2011). Até então com os olhos congelados no palco, os casais da plateia magicamente (ou “tragicamente”, como disse Olsen) começaram aos abraços e aos beijos – “I want to be naked /I don’t need my body / I’m floating away”, como se ouve na canção acompanhada por um dedilhado enternecedor e mergulhado num reverb que encheu a sala.

O roteiro também passou pelo presente e apontou para o futuro. As repetidas (da noite anterior) “Iota”, “White Fire”, “Lights Out” e a obrigatória “Unfucktheworld” fizeram parte do concerto-convívio que Olsen nos preparou. O público, entoando (muito) baixinho as letras, aplaudiu efusivamente todas as canções de “Burn Your Fire for no witness”, mostrando-se conhecedor do mais recente trabalho da norte-americana.  Entre o alinhamento constam também duas canções novas e duas versões: “I Love a Millionaire” da banda de punk britânico Mekons e “I’m a Stranger Here” de Riche Havens.

O previsível encore deu-se e a despedida foi feita com “Acrobat”, outro cromo repetido da noite anterior mas um dos temas mais pedidos pela audiência. Este foi o alinhamento do espetáculo.

O amor aconteceu e a relação de Angel Olsen com a cidade de Lisboa pode não ficar por aqui. Em conversa com o Observador, Angel Olsen assume que poderá vir a aceitar um convite de residência na ZDB, à semelhança do que fez Grouper e Kim Gordon dos Sonic Youth. “Aliás, se Donald Trump for eleito mudo-me para Lisboa permanentemente”, disse enquanto soltava gargalhadas irónicas.

Durante a sua visita a Lisboa, Olsen ficou fascinada como “uma cidade consegue ter um lado muito gótico, sem perder a faceta cosmopolita”. Além disso, a cena musical lisboeta é outro ponto forte. “As pessoas parecem estar muito interessadas e envolvidas”, disse Olsen. Enquanto passeava pela capital portuguesa, Olsen comeu pasteis de nata e “muito bacalhau”.

Apesar do pouco tempo que teve, Olsen deu um saltinho até Santa Apolónia e passou pelo Haus, o novo estúdio dos PAUS, para gravar vozes.

Bela gente o HAUS já esta de pé, hoje começamos o dia com Angel Olsen a gravar umas vozes e acabamos o dia com a continuação do novo álbum de PAUS

Posted by HAUS on Wednesday, 9 September 2015

A artista norte-americana vai participar na faixa de um novo projeto. Os detalhes das vozes gravadas, explicou Olsen ao Observador, “ainda são segredo”. “Eu estava em Los Angeles quando recebi a chamada de um amigo meu. Ele enviou-me a faixa, eu gostei e decidi participar”, explicou. Hélio Morais, baterista dos PAUS e dos Linda Martini, garantiu que Olsen não participará no novo disco dos PAUS, mas sim num novo projeto que está ai na calha.

Editado por Pedro Esteves.

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