O novo líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, acusou os membros do Partido Conservador de “negarem a pobreza” que existe no País, em resposta às acusações de que os membros do Partido trabalhista “negam o défice”. Corbyn acrescentou ainda que a “a austeridade actualmente é uma escolha política que este Governo [britânico] está a tomar e que está a impôr aos mais pobres e vulneráveis da sociedade”. Ao contrário do que acontece com as famílias mais abastadas e as empresas mais lucrativas com as quais o Governo inglês, segundo Corbyn, “gasta biliões em impostos [através de benefícios fiscais]”.

As declarações de Jeremy Corbyn foram proferidas perante mais de 100 apoiantes, durante o seu discurso no TUC, um congresso anual da federação de sindicatos britânicos e galeses, que reúne mais de 50 sindicatos filiados e mais de 6 milhões de membros.

Corbyn demarcou-se de forma clara do Partido Conservador, acusando-o de “ignorar as crescentes filas nos bancos alimentares e a crise no mercado imobiliário”, e afirmou ainda que, sob a sua liderança, o Partido Trabalhista irá “votar contra” os cortes fiscais previstos pelo Governo britânico para 2017.

Os cortes a que Jeremy Corbyn se opõe

Estes cortes, no valor de aproximadamente 6 mil milhões de euros, incidirão sobre as famílias britânicas com mais de dois filhos e fazem parte da chamada “política de dois filhos” do governo inglês.

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Os cortes, que resultarão na redução dos benefícios fiscais sobre as famílias que tenham um terceiro filho a partir de 2017, e possivelmente na redução em cerca de 40 euros semanais do subsídio ESA, que incide sobre os trabalhadores que por motivos de saúde não podem trabalhar, não afectarão os actuais beneficiários. O subsídio passará a ser cerca de 100 euros semanais para os cidadãos com mais de 25 anos que, por doença, acidente ou deficiência física, se encontram inaptos para o trabalho.

Estes cortes, que segundo as previsões do Governo britânico permitirão uma poupança de mais de 1,8 mil milhões de euros até ao ano fiscal de 2020/2021, foram duramente criticados por Corbyn. O líder do Partido Trabalhista citou de forma crítica os dados lançados no mês passado, que indicam que mensalmente quase 90 pessoas morrem depois de serem declaradas aptas para trabalhar. “Eu apenas questiono: em que tipo de sociedade vivemos quando deliberadamente tomamos estas decisões, sabendo os efeitos que terão nos mais pobres e mais vulneráveis, que acabam por cometer suicídio?”.

Discursos de Corbyn continuam a dividir o Reino Unido

O discurso originou críticas e aplausos dentro dos sindicatos e do Partido Trabalhista. Paul Kenny, o secretário geral da GMB – um sindicato britânico com mais de 600 mil trabalhadores -, afirmou que Corbyn “teve, na forma como se dirigiu ao TUC, uma abordagem incrivelmente diferente dos anteriores líderes do Partido Trabalhista”, ao passo que outros membros do partido mostraram-se cépticos. Um deles, não identificado, afirmou ao Guardian que “[Corbyn] não ofereceu nada à larga maioria que não votou no Partido Trabalhista”.

No passado domingo, David Cameron afirmou que a eleição de Jeremy Corbyn como líder do Partido Trabalhista tornou o partido uma “ameaça” à “segurança nacional”.

Em Portugal, as reações à sua eleição não têm sido uniformes. O Bloco de Esquerda congratulou-se pela ascenção de Jeremy Corbyn à liderança do Partido Trabalhista, ao passo que Ana Gomes, eurodeputada do PS, manifestou as suas dúvidas perante o que considera ser “a agenda anti-europeia” do novo líder do Labour britânico.