O ativista Rafael Marques apelou em Lisboa à libertação dos presos políticos angolanos acrescentando que o estado de saúde de alguns dos jovens detidos, sob a acusação de golpe de Estado em Luanda, é considerado grave.

“O Nito Alves que é o mais novo do grupo, tem 19 anos, está a ter distúrbios mentais e uma das razões, além do isolamento de três meses – porque estão todos em celas solitárias – tem que ver com o facto de ter sido dos jovens mais espancados e mais torturados durante as manifestações. O Nito Alves começou a ser perseguido quando tinha 15 anos”, afirmou Rafael Marques durante um colóquio sobre direitos humanos em Angola organizado pela Amnistia Internacional, em Lisboa.

Além do jovem Nito Alves, um outro detido, igualmente mantido numa cela solitária desde junho precisa de tratamento médico urgente.

“Arante Kivuvu tem um tumor que está a crescer a cada dia que passa. A família tem estado a apelar às autoridades para permitir que ele seja tratado e a resposta que deram à família foi a de que o tumor é um grão de arroz junto do umbigo, que não faz mal nenhum e que pode ficar assim”, denunciou o autor do livro “Diamantes de Sangue”.

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Para Rafael Marques, a posição do regime é sempre a mesma para quem tem opiniões contrárias, rejeitando o “discurso” de que foi José Eduardo dos Santos a “pacificar” o país depois da morte do líder da UNITA, Jonas Savimbi, em 2002.

“A paz não é do Presidente José Eduardo dos Santos. A paz é de todos os angolanos e quando se diz que o Presidente foi magnânimo isso é um abuso. Foi uma guerra que destruiu muitas vidas, utilizaram-se armas químicas e um dia quando nos reconciliarmos teremos de fazer um levantamento de todos aqueles que foram mortos nessa guerra”, sublinhou o ativista, criticando o homem que está no poder em Angola desde 1979.

“Os próprios angolanos bateram-se pela paz. Não foi o presidente e muitos de nós. Eu já cheguei a dizer a um general se ele queria saber quantos membros da minha família morreram nessa guerra de armas na mão”, afirmou Rafael Marques, referindo-se à guerra civil que se prolongou desde a independência até 2002.

“O Presidente foi um ‘senhor da guerra’ ao lado de Jonas Savimbi, não é magnânimo coisíssima nenhuma e se fosse não teria estes jovens presos”, disse ainda Rafael Marques que voltou a apelar à libertação dos 15 jovens detidos angolanos e de José Marcos Mavungo condenado a seis anos de prisão pelo Tribunal de Cabinda.

O debate sobre direitos humanos em Angola, organizado pela Amnistia Internacional, decorreu na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.