Atenas vive este sábado um dia rotineiro e a acalmia de um dia de reflexão antes das legislativas antecipadas de domingo, que poderão marcar o início de mais um período tempestuoso na política grega.

O processo complexo e incerto de procura de alianças pós-eleitorais para a formação de um Governo de coligação é o resultado tido como certo para a terceira chamada às urnas dos eleitores gregos este ano.

Nenhum dos dois principais candidatos à vitória eleitoral – o partido de esquerda Syriza, do ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, que procura uma relegitimação do mandato, e o conservador Nova Democracia (ND), de Vangelis Meimarakis – surge nas sondagens perto dos 38% de votos necessários para conseguir uma maioria parlamentar 151 deputados.

As quatro últimas sondagens antes do período de reflexão, divulgadas na noite de sexta-feira, colocavam o Syriza à frente do ND por margens ligeiras, oscilando entre os 0,7 e os três pontos percentuais.

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Dependendo da sondagem, o Syriza regista intenções de voto oscilando entre 33% e 26,2% e o ND varia entre 30% e 25,1%.

As mesmas sondagens colocam a percentagem de eleitores indecisos entre os 10% e os 15%, com os que afirmam que não irão votar também nos 10%, números que deixam completamente em aberto o resultado da votação de domingo.

No discurso que fez na noite de sexta-feira no comício de encerramento de campanha, Tsipras pediu um mandato claro, mas fez questão de apelar aos indecisos, afirmando que nao votar ou votar no ND é “voltar ao passado”.

Na quinta-feira, no comício de encerramento do ND, Vangelis Meimarakis, disse que “os gregos estão fartos de experiências” e que “a aventura Syriza termina no domingo”.

Outra interrogação é a do sentido que tomará a frustração de muitos gregos, que desconfiam da “velha política” de clientelismos e corrupção que associam ao ND, mas que se sentem desiludidos com a incapacidade de Tsipras, primeiro-ministro entre janeiro e agosto, de cumprir as promessas que fez quando depois de dizer que iria acabar com a política de austeridade acabou por acordar em Bruxelas um novo pacote de austeridade, associado ao terceiro resgate financeiro do país.

As sondagens divulgadas no fim da campanha eleitoral indicam que o partido neonazi Aurora Dourada – cujos deputados estão a ser julgados por fazerem parte de uma organização criminosa e cujo líder, Nikos Michaloliakos, admitiu publicamente na quinta-feira passada “responsabilidade política” pela morte, em setembro de 2013, do ‘rapper’ e ativista de esquerda Pavlos Fyssas – conseguirá manter-se como terceiro partido mais votado, apesar de um distante terceiro, e que no outro extremo do espectro político, o Partido Comunista Grego (KKE) poderá ficar em quarto lugar.

Vangelis Meimarakis disse durante toda a campanha eleitoral que pretende formar uma “coligação nacional” abrangente, incluindo o Syriza, mas Alexis Tsipras reiterou diariamente a recusa de qualquer entendimento com o ND.

Excluído um entendimento entre Tsipras e Meimarakis, e com os extremistas Aurora Dourada e KKE a não serem considerados parceiros viáveis, entram em cena os socialistas do PASOK e o partido de centro esquerda To Potami como eventuais viabilizadores de uma coligação, quer com o Syriza quer com o ND.

Nas ruas de Atenas não faltam, no entanto, gregos que lembram a distância, por vezes grande, que separa o discurso político de campanha e a ‘realpolitik’ pós-eleitoral, para se interrogarem sobre se a impossibilidade de um entendimento entre o Syriza e o ND será assim tão impossível.

Entretanto, as eleições discutem-se este sábado na capital grega às mesas dos cafés e das esplanadas onde se escapa ao calor, mas há um sentimento generalizado de que, mesmo sendo politicamente importante, o ato eleitoral não têm impacto direto ou influência naquilo que preocupa verdadeiramente os gregos.

E o que preocupa verdadeiramente os gregos é a vida mais dura que vão passar a ter com a aplicação a partir de outubro do novo pacote de austeridade, que inclui mais aumentos de imposto, exigido pelos credores da Grécia em troca do terceiro resgate financeiro, no valor de 86 mil milhões de euros.