A Volkswagen está a ser acusada pelas autoridades dos EUA de manipulação grosseira dos testes às emissões poluentes em vários dos seus modelos movidos a gasóleo. A empresa, que “lamenta profundamente” o sucedido, arrisca uma multa equivalente a mais de 15 mil milhões de euros e alguns executivos podem enfrentar processos criminais por terem, segundo a acusação, instalado programas informáticos nos automóveis (das marcas Volkswagen e Audi) que escondiam, durante os testes, que os carros poluem entre 10 a 40 vezes mais os limites permitidos por lei.

O escândalo levou as ações do grupo automóvel alemão a afundarem 23% na bolsa de Frankfurt nesta segunda-feira. É a sessão bolsista mais negra dos últimos seis anos, segundo a Bloomberg, com o valor da empresa a descer em 15,6 mil milhões de euros.

A empresa admitiu – e “lamenta profundamente” – ter forjado os resultados dos testes às emissões poluentes. Em causa estarão quase meio milhão de carros a gasóleo que circulam nas estradas norte-americanas e que poluem mais 10 a 40 vezes do que permitido por lei e do que dizem os resultados dos testes. A acusação diz que os carros foram equipados com o chamado defeat device, que fazia com que os mecanismos de redução de emissões fossem ativados apenas quando o modelo estava a ser testado. Na circulação normal, este mecanismo era desligado e, portanto, o carro poluía muito mais do que se acreditava.

“Em termos simples, estes carros continham software que desligava os controlos de emissões quando circulando normalmente e ligava-os quando o carro estava a ser sujeito a controlos de emissões poluentes”, explicou Cynthia Giles, responsável da norte-americana Environmental Protection Agency (EPA), citada pela Reuters.

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Martin Winterkorn, presidente-executivo que acaba de vencer uma luta interna contra o presidente do conselho de administração – e seu antigo mentor –, Ferdinand Piech, garante que fará “tudo o que for necessário para reverter os danos que isto causou”. Esta é, “pessoalmente, a prioridade número 1”, garantiu Winterkorn. A penalização poderá ser, contudo, muito pesada: o grupo arrisca até 18 mil milhões de dólares em multas e alguns executivos poderão enfrentar processos nos tribunais.

Volkswagen Group CEO Martin Winterkorn speaks at the launch of new vehicles from the car manufacturer at the Fraport arena prior to the 66th IAA auto show in Frankfurt am Main, western Germany on September 14, 2015. Volkswagen group showed their latest models and automotive concepts from the brands Volkswagen, Audi, Bentley, Bugatti, Ducati, Lamborghini, Porsche, Seat and Skoda. Hundreds of thousands of visitors are expected to crowd into the massive exhibition halls of Frankfurt's sprawling trade fair grounds later this week to catch a glimpse of the latest models and high tech innovations. AFP PHOTO / ODD ANDERSEN (Photo credit should read ODD ANDERSEN/AFP/Getty Images)

Martin Winterkorn, presidente-executivo do grupo VW. (Foto: ODD ANDERSEN/AFP/Getty Images)

Martin Winterkorn está no centro do escândalo. “Winterkorn é responsável pela área de desenvolvimento”, afirma Ferdinand Dudenhoeffer, um professor da Universidade de Duisburg-Essen, citado pela Bloomberg. “Isso significa que Winterkorn ou sabia do que se passava ou não fazia ideia do que o departamento que dirigia andava a fazer. Qualquer político em qualquer canto do mundo teria, forçosamente, de se demitir” com um escândalo desta gravidade, afirma o mesmo especialista.

A Volkwagen poderá receber uma multa de 37.500 dólares (33.150 euros) por cada um dos 482 mil carros em circulação e que terão sido equipados com o defeat device. Em causa estão automóveis fabricados entre 2009 e 2015 das gamas VW Jetta, Beetle, Golf e, ainda Passat nos modelos de 2014 e 2015. O Audi A3 também é visado. Todos estes são automóveis que foram comercializados e publicitados com o selo de automóveis com baixos índices de emissões poluentes, o que era a grande aposta da VW para aumentar a penetração no mercado dos EUA.

Agora, não é claro “se o consumidor norte-americano irá perdoar” esta manipulação dos resultados, afirma Eric Lyman, outro especialista do mercado automóvel dos EUA citado pela Bloomberg. “Isto será um mar nunca dantes navegado no que diz respeito a escândalos de relações públicas”, remata.