Falhas básicas nas regras de segurança, má gestão, falta de equipamentos e de transportes, excesso de burocracia e conflitos entre organismos. Tudo isto contribuiu para uma série de erros evitáveis que a Associated Press aponta à forma como a Organização Mundial de Saúde (OMS) combateu o ébola na cidade de Kenema, na Serra Leoa. A agência de notícias teve acesso a e-mails internos da Organização das Nações Unidas, documentos e entrevistas e elencou os 10 principais erros da Organização.

  1. Ao contrário de outras organizações de ajuda humanitária, a Organização Mundial de Saúde (OMS) obteve o desinfetante localmente e os funcionários do hospital local descobriram que o desinfetante estava fora de prazo. Havia ainda embalagens abertas e outras sem prazo de validade. A Associated Press descobriu uma troca de e-mails onde o representante da OMS na Serra Leoa pedia uma investigação criminal para perceber estes problemas com o desinfetante.
  2. Mais de quarenta profissionais de saúde morreram e 20 ficaram infetados durante a construção de uma clínica para tratar doentes com ébola, em Kenema. Muitos deles não estavam treinados para usar o equipamento de proteção. Os Médicos Sem Fronteiras foram chamados a intervir e acabaram por fechar a clínica.
  3. A Cruz Vermelha ofereceu-se para construir uma clínica em Kenema, mas nem as autoridades da Serra Leoa, nem a OMS lhes disseram onde poderiam construir a clínica. Quando abriu, já o surto tinha atingido o pico.
  4. Em agosto de 2014, um relatório interno da OMS dava conta da falta de sacos apropriados para os corpos das vítimas mortais do ébola, que são altamente contagiosos. No final desse mês, um funcionário de uma organização humanitária tentou entregar 100 sacos apropriados para o efeito, mas o governo travou a entrega, por causa da burocracia.
  5. Mais uma vez a burocracia a trazer problemas no combate ao ébola. A diretora-geral Margaret Chan chegou a escrever um e-mail onde denunciava a falta de dinheiro para fazer face às enormes despesas básicas como, compra de botas de borracha e desinfetante.
  6. O gerador usado no laboratório do hospital de Kenema era tão incerto que havia receio que danificasse os equipamentos. Esse alerta foi escrito num e-mail no início de agosto de 2014. Quatro dias mais tarde houve um “apagão” no laboratório.
  7. Funcionários da OMS em Kenema pediram várias vezes aos seus superiores para intervirem, explicando que as falhas no controlo do local estavam a deixá-los postos de parte.
  8. Um especialista da OMS, também por e-mail, revelou que os números de casos oficiais contabilizados da organização foram alterados para coincidirem com as estatísticas oficiais do governo da Serra Leoa.
  9. Os responsáveis da OMS queixavam-se da falta de meios de transporte para controlar a propagação do vírus, apesar de haver mais de 50 jipes estacionados na sede da ONU em Freetown. Os funcionários deslocavam-se, muitas vezes, em bicicletas.
  10. O coordenador da OMS em Kenema chegou a descrever a tensão que havia entre a OMS e a Metabiota, uma empresa que monitorizava a epidemia em nome do governo da Serra Leoa. As duas entidades entraram mesmo em confronto e chegou a ser sugerido que a Organização das Nações Unidas saísse da cidade.

A pandemia do ébola já atingiu mais de 28 mil pessoas e matou mais de 11.300, de acordo com o último relatório da OMS, que data de 13 de setembro. A Serra Leoa é precisamente o país com maior número de infetados (13.756) e o segundo com mais mortes (3.953). Agora nas primeiras semanas de setembro voltaram a aparecer novos casos de ébola.

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