Um projeto que junta instituições italianas, norte-americanas e britânicas – SardiNIA – encontrou dois genes que podem justificar porque é que os habitantes da ilha italiana Sardenha têm uma estatura mais baixa do que seria de esperar. Os três artigos científicos, publicados no dia 14 de setembro na revista Nature Genetics, identificam não só os genes responsáveis pela estatura menor, mas também genes associados aos níveis de lípidos e de marcadores de inflamação no sangue, assim como genes relacionados com a expressão da hemoglobina. Os autores referem que a vantagem de trabalhar com uma população tão específica é encontrar variações aos dados publicados pelo projeto de sequenciação do genoma humano.

O projeto tem sido desenvolvido com indivíduos de quatro povoações da Sardenha suficientemente isolados para terem recebido pouca influência do continente nos últimos anos, ou seja, com poucos indivíduos geneticamente diferentes a entrarem na população e a deixarem a herança genética. A esperança, conforme refere a página do projeto, é que estudar geneticamente esta população que chamam de “fundadora” possa ajudar a analisar doenças cardiovasculares e traços de personalidade, mas o traço destacado nesta revista foi a altura.

Depois de analisarem 6.307 sardenhos – uma das populações mais baixas da Europa (os homens têm em média 168,5 centímetros) –, os investigadores verificaram que uma variação do gene GHR relativamente na Sardenha – 0,87% quando comparados com menos de 0,01% fora da Sardenha – parece condicionar uma diminuição na estatura de 4,2 centímetros (em média). O gene KCNQ1 é mais frequente – 7,7% na Sardenha contra menos de 1% noutros locais – e parece ser responsável pela redução, em média, de 1,83 centímetros na altura quando herdados pela mãe.

A estatura vai diminuindo de norte para sul na Europa, mas os autores vão mais longe e propõem que a população sardenha é mesmo mais baixa do que esperado. Nos indivíduos estudados há uma maior frequência dos genes de estatura baixa do que seria previsível pela simples migração para a ilha, que os investigadores tentam justificar como um fenómeno que também aconteceu com outros grandes mamíferos, por exemplo o mamute e veado sardenhos (Mammuthus lamarmoraeMegaloceros cazioti, respetivamente). Os animais muito grandes em territórios relativamente pequenos tendem a sofrer uma seleção natural que privilegia animais de menor tamanho.

Em relação às populações humanas não se sabe o que pode ter condicionado esta seleção, mas os autores apontam por exemplo a escassez de recursos alimentares na ilha, pelo menos na altura da sua colonização.

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