Aslan e o amor incondicional por uma cadela

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Tem dezassete anos e leva uma mochila às costas com comida e água. O seu nome, Aslan. Podia ser apenas mais um entre os milhares, não fosse um amor incondicional por uma pequena cadela chamada Rose, que o fez destacar-se.

Aslan percorreu 500 quilómetros desde o seu país à procura de uma vida melhor no el dourado europeu. Sempre com a pequena husky, que trouxe protegida numa casota portátil vermelha. Nunca pensou em abandoná-la no meio dos bombardeamentos na Síria: “Eu amo esta cadela, eu preciso dela”.

Quando decidiu partir, disseram-lhe que não podia levar Rose. Mas Aslan não se resignou e conseguiu documentos oficiais para a cadela, que agora até passaporte tem e já pode viajar.

Aslan só não tem um destino: ser na Europa basta-lhe. Saiu de Damasco, a capital síria, atravessou a Turquia e conseguiu chegar a Lesbos, na Grécia. Agora continua à procura de uma nova vida com uma casota vermelha na mão direita.

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A história com um final feliz da família Alghadab

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Osama Abdul Mohsen Alghadab era apenas mais um dos milhares de refugiados sírios nas fronteiras europeias até ao momento em que uma jornalista húngara o rasteirou enquanto corria com o filho ao colo.

Estava na Hungria, também ele a fugir da guerra síria porque o Estado Islâmico lhe tomou a casa. Enquanto fugia da polícia, na tentativa de chegar à Alemanha, Petra Laszlo agrediu-o quando seguia com Zaid, o filho de 8 anos, ao colo.

A história chocou o mundo, mas não acabou ali. Osama, que era treinador de futebol num clube da primeira liga síria, foi convidado por um clube espanhol para treinar uma equipa juvenil em Getafe. Prometeram trabalho ao pai e um abrigo para toda a família. E eles chegaram a Espanha na semana passada.

Poucos dias depois da cena degradante naqueles descampado húngaro, onde a angústia lhes marcava os rostos,  a família voltou a sorrir este sábado no Estádio Santiago Barnabéu.

Zaid, o menino que caiu quando o pai foi agredido, entrou em campo com Cristiano Ronaldo no início do jogo entre o Real Madrid e o Granada. O clube treinado por Rafa Benítez anunciou a doação de 1 milhão de euros aos refugiados sírios, convidou a família a assistir à partida e o filho mais novo teve ainda a oportunidade de confraternizar em campo com os seus ídolos do futebol. Foi um sonho concretizado.

A mãe de Alma em busca de um “direito simples”

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“Eu não quero o meu direito de viver uma vida segura. Eu quero isso para a minha filha. Quero que vá para a escola. É um direito simples. Levem-na para a Alemanha, que eu volto para a Síria. Mas levem-na a ela”. Foi isto que Rashad Alsayed, uma professora de inglês síria, explicou à Sky News quando ficou presa na fronteira entre a Sérvia e a Hungria.

Atravessou a Turquia e a Grécia numa viagem que durou dez dias, mas admite que ela, à semelhança da maioria dos refugiados, enfrenta estes obstáculos em nome da segurança dos filhos. Diz que voltaria para a Síria se levassem Alma, a menina de seis anos, para um país seguro. Mesmo que, em conjunto com o irmão, já tivesse investido dois mil euros para chegar à Europa. Mas viu as portas fechadas. Para ela e para Alma.

Aylan: o menino que deu voz aos refugiados sírios

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Eram quatro da manhã quando uns barulhos se ouviram numa praia da Turquia. Yemshit Sherif, também ele um migrante em fuga, ouviu gritos, alguns barcos e depois mais nada. De manhã, quando acordou ao lado da família, olhou para a beira-mar e viu o corpo de um menino de três anos estendido na areia. Era Aylan Kurdi, que morreu a 3 de setembro enquanto fugia da Síria com a família.

Aylan deu à costa depois de o barco onde viajava com o irmão de cinco anos, Galip, e os pais, Rihan e Abdullah, ter naufragado. Tentavam chegar a Kós, na Grécia, depois de terem atravessado a Turquia. Daí, queriam chegar ao Canadá onde a irmã de Abdullah os esperava. Morreram todos, exceto o pai que quis regressar à Síria para enterrar a família. Assim foi.

A seguir a Aylan, uma outra menina síria foi encontrada numa praia turca depois de o barco onde viajava até à Grécia se ter afundado. Tinha cinco anos e foi uma das 15 pessoas que morreram neste naufrágio. Onze foram resgatadas.

O futuro em canetas de tinta azul

A imagem correu o mundo: um pai com o desespero estampado no rosto, a vender canetas azuis com uma menina a dormir encostada ao seu ombro direito. Tornou-se mais um dos símbolos de uma guerra civil com repercussões sociais nunca vistas desde a II Guerra Mundial.

Quando o web developer islandês Gissur Simonarson publicou a fotografia nas redes sociais levantou-se uma onda de solidariedade. Dezenas de pessoas quiseram localizar esta família, conhecer a sua história e ajudá-la. O primeiro passo foi criar uma conta de Twitter com atualizações ao minuto, “@Buy_Pens”. Através das pistas de vizinhos, voluntários de organizações humanitárias e jornalistas locais, a Internet “encontrou” Abdul Halim Attar.

Abdul é um sírio residente no Líbano que vive num campo de refugiado em Yarmouk há três anos com a filha de quatro anos Reem e o filho cinco anos mais velho, Abdelilah. Antes da guerra rebentar era operário numa fábrica de chocolate. No Líbano, vende canetas na rua na esperança de amealhar dinheiro e alimentar os filhos.

Depressa se preparou uma angariação de fundos online, que ultrapassou os 90 mil euros em menos de 24 horas. Uma organização humanitária ficou responsável por visitar a família e auxiliá-la. Quando entregou o dinheiro ao pai Abdul, ele explicou que ia investir o dinheiro na educação dos filhos e a ajudar outros refugiados sírios.

No que depender de si, o futuro da família Attar é a Europa, onde espera encontrar melhores condições de vida para educar os filhos. Se o cerco se apertar, ficará no Líbano para abrir uma fábrica de chocolate.

Um amor que não tem fronteiras

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Créditos: Zsiros Istvan Hungary/ Facebook

Nem precisa de ter, porque pelo menos tem um rosto entre o desespero dos refugiados sírios. Zsíros István é o autor desta fotografia, protagonizada por um casal que se beija dentro de uma tenda junto aos caminhos de ferro de Budapeste, na Hungria. Também eles esperavam a entrada na Europa para fugir ao conflito na Síria. Entre outras tendas e muitas pessoas que dormiam estendidas no chão, escolheram o amor.

E há outras histórias de amor na crise de refugiados a que o mundo assiste. Peter Bouckaert, diretor de emergências na organização Human Rights Watch, publicou no Twitter a história de um casal que se casou mesmo antes de partir da Síria. Querem chegar à Alemanha. E entre gargalhadas insistem que esta viagem é uma lua de mel.

Da Síria também chega a história de um casal, Fadi e Rana, ambos com 28 anos, que casaram numa igreja semi-destruída durante um bombardeamento em Homs. Toda a vizinhança foi convidada para a cerimónia na Igreja de São Jorge e já toda a gente olha para o casamento como um sinal de esperança em tempos de guerra.

Uma lágrima de alívio

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Créditos: Daniel Etter

Na aurora de 16 de agosto, a família Majid chorou ao alcançar a ilha grega de Kós. Chorou de alívio, depois de enfrentarem a iminência de um naufrágio a partir do momento em que o barco onde seguiam começou a encher-se de água.

Tinham vindo de Badrum, na Turquia, para fugir do controlo xiita em Bagdade, onde eles, sunitas, residiam. Mas esta é uma história controversa, já que os primeiros dados diziam que a família Majid havia fugido de Deir ez-Zor, onde a presença do Estado Islâmico é muito vincada.

Ao chegarem a terra, Laith abraçou os três filhos e o momento não escapou à objetiva de Daniel Etter. Com 44 anos, Laith seguiu com a mulher, uma professora de inglês chamada Neda, e os três filhos – Mustafa com 18 anos, Ahmed um ano mais novo, Taha com nove anos e Mair com sete – para Berlim.

Admitem que vários países lhes ofereceram ajuda quando a imagem se tornou viral, mas escolheram a Alemanha para educar os filhos. Angela Merkel deu-lhes asilo e isso é algo que nunca vão esquecer: “É como uma mãe para nós”, admite Neda.

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Créditos: Judith Vonberg

Texto editado por Filomena Martins