O escritor português António Lobo Antunes deu no passado sábado uma entrevista ao El País, onde fala de vários temas, entre os quais a sua visão crítica de Fernando Pessoa, a sua carreira e as marcas que a guerra lhe deixou.

Sobre Pessoa, o “eterno candidato” ao Prémio Nobel afirma não ser fã do escritor, falando sobre ele da seguinte forma:

“O livro do não sei o quê [Livro do Desassossego] aborrece-me até à morte. A poesia do heterónimo Álvaro de Campos é uma cópia de Walt Whitman; a de Ricardo Reis, de Virgílio. Pergunto-me se um homem que nunca fodeu pode ser um bom escritor“.

António Lobo Antunes, que na entrevista traça um cenário negativo da literatura na Europa — “o problema é que hoje não há grandes escritores na Europa – na Irlanda, talvez, mas não na Inglaterra ou na França” –, abordou ainda os vários prémios que ganhou, dizendo “o que me interessa neles é o dinheiro” e não o prestígio. “Esse é dado pelos escritores, não o inverso”.

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O escritor português abordou ainda as marcas que ter ido para a Guerra em Angola lhe deixou.

“Eu queria desertar quando lá estava, mas o meu capitão disse-me: “Não vás, que a revolução se faz por dentro, não nos cafés de Paris. (…) Depois de 60 anos continuas com pesadelos por causa das coisas horríveis em que participas”.

António Lobo Antunes falou ainda de música ao El País Brasil, afirmando não se interessar muito por fado mas, pelo contrário, ser fã de flamenco e de jazz. “Aprendi mais com alguns saxofonistas de jazz, como John Coltrane e Charlie Parker, do que com escritores”, diz.

Quando questionado sobre o facto de ter escrito 30 livros em 37 anos, e não parecer ter vontade de abrandar, António Lobo Antunes respondeu:

“O que posso fazer? Quando não escrevo não me sinto bem, sinto uma espécie angústia; uma coisa física difícil de explicar. Tenho a impressão de que me fizeram para escrever”.