Várias centenas de pessoas manifestaram-se este sábado em 14 localidades ribeirinhas do Tejo em Portugal, pela defesa de um “rio vivo” e contra a poluição do Tejo e seus afluentes, uma iniciativa “de sucesso”, segundo a organização.

“Em todo o país manifestaram-se largas centenas de pessoas, perto de um milhar de cidadãos que vieram para as praias fluviais e parques ribeirinhos das suas terras e mostraram a sua indignação pelos baixos caudais, pelos transvases e pelos recorrentes casos de poluição do Tejo dos seus afluentes”, disse à agência Lusa o porta-voz do proTEJO – movimento pelo Tejo, entidade que organizou a iniciativa em solo português.

“Esta iniciativa foi um sucesso por reunir tantas localidades em defesa do rio Tejo e por ter sensibilizado milhares de pessoas pelas redes sociais para os problemas de poluição que têm vindo a acentuar-se nos últimos tempos”, defendeu Paulo Constantino.

Em Vila Nova da Barquinha, onde estiveram concentradas cerca de 50 pessoas, a manifestação envolveu diversas atividades náuticas, no âmbito da defesa de um rio com caudais mínimos e ecologicamente sustentáveis, e contou com várias alocuções por parte dos presentes.

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Manuela Poitout, 75 anos, deslocou-se da vizinha cidade do Entroncamento “pela preocupação ambiental generalizada, num ato de cidadania que deve tocar a todos os cidadãos”, disse à Lusa.

Segundo adiantou a professora aposentada, as suas principais preocupações com o Tejo “centram-se na poluição, nos transvases e na falta de caudais sustentáveis”.

Em Tramagal, Abrantes, onde estiveram cerca de 80 pessoas, António Falcão de Carvalho, empresário agrícola, destacou a dificuldade da empresa onde presta consultoria poder trabalhar devido à poluição das águas do rio.

“Tudo o que vive deste rio está limitado e em condições muito deficientes em termos do que se entende como um habitat saudável. Em termos profissionais, trabalho numa empresa que funciona em modo de produção biológica e que, pura e simplesmente, não pode usar esta água pelo nível de contaminação, o que impede que a atividade se desenvolva”.

Trinta quilómetros a montante, em Ortiga, Mação, Arlindo Marques foi um dos cerca de 50 manifestantes presentes na iniciativa, tendo lembrado à Lusa que foi neste rio que, nos seus tempos de menino, brincou, pescou e se banhou.

“Hoje o rio está doente, com muita poluição, e, enquanto cidadão, estou revoltadíssimo, porque o rio é de todos nós e alguém o está a poluir. É preciso alertar e exigir a quem de direito que não deixe o Tejo morrer”, defendeu.

Em declarações à agência Lusa, o secretário de Estado do Ambiente disse que as preocupações das populações “são legítimas e demonstram sensibilidade ambiental”.

Quanto às questões da poluição e fiscalização – “as duas principais preocupações”, como observou Paulo Lemos -, “o trabalho que se está a desenvolver hoje em Portugal é melhor que noutros anos”, tendo destacado o reforço das ações inspetivas e da articulação com a GNR/SEPNA (Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente), a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e a Inspeção Geral do Ambiente.

“Este ano já foram realizadas mais de 1600 ações de fiscalização, das quais resultaram autos de notícia e notificações às empresas poluidoras, e não hesitaremos em tomar medidas mais drásticas se a situação o exigir”, afirmou.

“Estamos a trabalhar como nunca se trabalhou e a atuação das populações também é importante porque a indignação das pessoas, a par da atuação do Estado, vai ajudar a fazer pressão junto das empresas prevaricadoras para evoluírem na sua postura ambiental”, defendeu o governante.

Contactada pela Lusa, fonte da GNR de Santarém disse que as várias manifestações no distrito “decorreram de forma tranquila, não havendo qualquer tipo de incidente a registar”.

A manifestação decorreu no âmbito de um conjunto de ações em defesa do Tejo promovidas no dia de hoje pela Rede de Cidadania por Uma Nova Cultura da Água do Tejo de Portugal e Espanha, tendo decorrido em 14 localidades portuguesas e em 10 espanholas.