Se a notícia de um encontro confunde muita gente, uma notícia de dois encontros confunde muito mais. Se forem do Papa então, confundem toda a gente: os mais liberais, os mais conservadores, os católicos e os não católicos.

No início de setembro era notícia a recusa de Kim Davis, chefe de secretaria do tribunal de Kentucky (EUA), a emitir licenças de casamento a casais homossexuais. A funcionária foi depois detida durante cinco dias por ter agido contra a lei. Kim dizia que o tinha feito em nome da sua “fé cristã”. Questionado pelos jornalistas sobre este caso, o Papa considerou que um funcionário do governo “tem direito” a recusar emitir licenças para casais homossexuais se isso violar a sua consciência, porque “a objeção de consciência é um direito humano”.

Depois disso, soube-se que o Papa chegou mesmo a encontrar-se com Kim Davis na embaixada do Vaticano em Washington, durante a visita aos Estados Unidos. A funcionária contou que o Papa lhe disse para “se manter forte”. Durante um encontro de 15 minutos, o Papa terá ainda dito a Kim: “Obrigada pela sua coragem”. Primeiro, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, admitiu o encontro mas não teceu comentários. Depois o Vaticano emitiu um comunicado em que esclareceu que o encontro do Papa com Kim Davis “não deve ser considerado como uma forma de apoio”.  Conservadores: 1. Liberais: 0.

Mas a pontuação estava prestes a alterar-se. Agora, ficamos a saber que no dia anterior ao encontro com a funcionaria de Kentucky, Francisco teve outro encontro — mas, desta vez, com um casal gay. Yayo Grassi começou por ser aluno de Jorge Mario Bergoglio, quando Francisco era professor no Liceu Jesuíta, Colégio da Imaculada Conceição, na Argentina.

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Grassi passou de aluno a amigo de longa data. Nesse dia, estava com o companheiro Iwan Bagus e foram os dois recebidos com simpatia pelo chefe máximo da Igreja Católica. O vídeo em baixo mostra a calorosa recepção a Grassi e o cumprimento a outros colegas da Embaixada do Vaticano. “Três semanas antes da viagem, ele ligou-me e disse-me que queria dar-me um abraço”, contou Grassi, destaca a CNN.

E nesta amizade há clareza. Segundo Grassi, Francisco “sempre soube” da sua orientação sexual e que nunca deixou que isso perturbasse a relação. Grassi e o companheiro também se encontraram com o Papa em privado em Roma, acrescenta o Mic. Resultado final da visita aos Estados Unidos: Conservadores: 1. Liberais: 1.

Já em janeiro o Papa Francisco tinha proferido comentários aplaudidos por uns e criticados por outros. O responsável recebeu um cidadão espanhol transexual no Vaticano. “Deus aceita-te como és”, disse-lhe, e a notícia correu mundo. O encontro aconteceu depois de Diego Neria Lejárraga er escrito uma carta a Francisco onde questionava se era mesmo filho de Deus. Depois, o Papa ligou-lhe para marcarem um encontro. Aí, terá dito ao homem de 48 anos: “Deus quer bem a todos os seus filhos, sejam como forem, e tu és filho de Deus por isso a Igreja aceita-te como és”.