Estávamos em 1950 quando o médico Ernst Grafenberg identificou o ponto G. Desde então, homens e mulheres de todo o mundo têm procurado insistentemente por esse “botão do prazer” feminino. Mas a demanda pode revelar-se infrutífera, dado que um novo estudo vem sugerir que o ponto G, afinal, não existe. A mesma lógica aplica-se também aos orgasmos vaginais, mas já lá vamos.

O estudo é da autoria dos sexólogos Vincenzo Puppo e Giulia Puppo, do Centro Italiano de Sexologia da Universidade de Florença e foi publicado no jornal Clinical Anatomy. De acordo com a investigação, a chave para o prazer sexual da mulher é o clitóris, que contém um conjunto de tecidos eréteis que podem ser “efetivamente estimulados”, escreve a publicação online Medical Daily.

Os investigadores pediram o apoio de outros sexólogos e especialistas na área para reformular a forma como a anatomia e o prazer sexual femininos são discutidos, uma vez que a controversa pesquisa encara a vagina e o clitóris como duas estruturas separadas, sem qualquer relação anatómica.

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“O orgasmo vaginal que algumas mulheres relatam é sempre causado pelos órgãos erécteis circundantes”, escrevem os autores Vincenzo e Giulia Puppo. “A vagina não tem uma relação anatómica com o clitóris.”

A propósito disso, o Daily Beast diz que a pesquisa em questão vai contra a teoria do neurologista austríaco Sigmund Freud, que defendia que os orgasmos derivados do clitóris eram um “fenómeno adolescente” e menos poderosos que os orgasmos vaginais, por ele considerados “maduros”. Com o passar do tempo seguiram-se outros estudos que haveriam de contrariar a teoria, nomeadamente os de Alfred Kinsey e da equipa Masters & Johnson. No primeiro, Kinsey entrevistou 11 mil mulheres, cuja maioria garantiu nunca ter tido um orgasmo vaginal; no segundo, o duo norte-americano não só refutou a ideia de Freud, como constatou que as mulheres eram capazes de múltiplos orgasmos num curto período de tempo.

Apesar das muitas pesquisas que têm sido feitas ao longo do tempo, uma coisa é certa: o ponto G, mito ou não, continua a dar que falar. Sobre isso, Fernando Mesquita esclarece que este é um tema pouco consensual dentro da comunidade de sexólogos e que há quem defenda a inexistência do ponto mítico. O terapeuta sexual esclarece ainda que há mulheres mais sensíveis em determinadas zonas do corpo do que outras.

O problema do ponto G é que consideramos que toda a gente o tem e quem não o encontrar vai pensar que tem um defeito. E é isso que os sexólogos tentam desmistificar. Nem todas as mulheres têm de ter prazer nessa zona e, em termos sexuais, é melhor uma exploração geral do corpo do que estar à procura do «botão do prazer»”.

Mesquita lembra mais um estudo que aponta para a inexistência da zona erógena, desta vez da autoria de investigadores do King’s College, no Reino Unido. O mesmo contou com 1800 mulheres britânicas com idades compreendidas entre os 23 e os 83 anos — o grupo de estudo era composto por mulheres gémeas verdadeiras e falas. Em suma, houve respostas diferentes em relação à existência do ponto G considerando mulheres que partilhavam os mesmos genes.

Partindo da pesquisa citada, o sexólogo português esclarece que também ele não acredita na existência do ponto associado ao prazer sexual e adianta que esta pode ser uma “questão psicológica”. “A mulher tem o único órgão que existe só para dar prazer é o clitóris. Já o pénis serve para urinar e ter prazer. Se há um ponto a explorar, seria o clitóris.” 

Está claro que a discussão está longe de acabar — um conjunto de investigadores italianos afirmou, em 2008, ter localizado a zona erógena através de scanners de ultra-sons — e que a revista Cosmopolitan vai continuar empenhada em ensinar às suas leitoras como encontrar o ponto G. Até existirem provas, deixamos ficar a cena que Meg Ryan imortalizou no filme de 1989, Um Amor Inevitável: