Vítor Ramalho, ex-secretário de Estado do Comércio e membro da ala soarista do PS, defende que se o partido estiver a pensar formar um Governo de coligação, quer seja à esquerda ou à direita, terá que fazer um referendo interno para consultar os seus militantes. Foi neste sentido a intervenção que fez terça-feira à noite na reunião da comissão política do PS.

Contactado pelo Observador, Ramalho, que atualmente é secretário-geral da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), explicou que fez aquelas declarações por “entender que o PS deve ser um partido de causas e não de poder e, neste momento, mais do que nunca devem ser as causas a sobrepor-se a tudo“. “É isso que neste momento resulta do voto dos portugueses”, sublinha.

Na reunião da comissão política, Ramalho lembrou “o ensinamento” deixado por Mário Soares quando em 1983 não conseguiu uma vitória clara, acabando por negociar com o PSD o Governo de Bloco Central, que durou dois anos e do qual Ramalho também fez parte.

Nas conversas que António Costa já teve com o PCP (primeiro) e com o PSD (depois), a questão da coligação de Governo esteve em cima da mesa. O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, admitiu estar aberto a “assumir responsabilidades governativas”, ou seja, não se tratando apenas de o PCP viabilizar o programa de Governo que o PS possa vir a apresentar depois de toda a esquerda se entender para derrubar o Governo de maioria relativa PSD/CDS.

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À saída da reunião do PS com o PSD e o CDS, sexta-feira de manhã, Passos Coelho admitiu, em resposta aos jornalistas, que os dois partidos de direita estão abertos à possibilidade de virem a chamar o PS para o Governo (“Nós não recusamos essa solução”, respondeu o líder do PSD e primeiro-ministro a uma pergunta da TVI). Segundo conta o Expresso, dentro da reunião, o líder do PSD fez uma alusão a isso para explicar à delegação socialista até onde os dois partidos que concorreram coligados estão dispostos a ir na negociação de uma solução de Governo “estável e duradoura” pedida pelo Presidente da República. Desta reunião, contudo, os sociais-democratas e centristas saíram a achar que Costa está mais inclinado a negociar à esquerda do que à direita (negociando os Orçamentos ou até aceitar coligação). Mesmo assim, ficou prometido durante o fim de semana troca de informações orçamentais entre a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e o coordenador do cenário macro-económico do PS, Mário Centeno.

Na segunda-feira, António Costa, reúne-se com o Bloco de Esquerda e vai a Belém conversar com o Presidente da República, que o chamou para se inteirar do pensamento do socialista. Afinal, qual é o rumo pretendido: negociar com os dois partidos que partilham dos mesmos ideais europeus e dos mesmos compromissos ou com os dois partidos sentados do lado mais à esquerda do hemiciclo.

Desde a noite eleitoral, que se assiste a uma divisão entre os dirigentes socialistas sobre qual a melhor estratégia a seguir. Francisco Assis e vários seguristas, por exemplo, defendem que o PS deve negociar com o PSD/CDS o Orçamento do Estado. Porfírio Silva e João Soares, por exemplo, consideram que este é um momento histórico em que PS unido ao BE e PCP impedir Passos e Portas de formar Governo (rejeitando o seu programa no Parlamento) e aparecerem juntos em Belém como a alternativa.

António Costa marcou, entretanto, nova reunião da comissão política para terça-feira para sufragar a orientação do PS que deverá ficar definida até lá.