Dois anos depois de ter deixado o cargo de primeiro-ministro de Itália, Mario Monti diz em entrevista ao El País que acredita que a União Europeia já ultrapassou o risco de o euro colapsar e que “A Itália foi o único país no sul da Europa que emergiu da crise financeira sem pedir nem sequer um euro” à União Europeia ou ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Sobre as possibilidades da Grécia sair do euro que no passado Verão estiveram em cima da mesa, Mario Monti acredita que, apesar das incertezas, o risco de desintegração do euro foi ultrapassado e que países como a Grécia, mas também Espanha, Portugal, Irlanda e Itália têm feito esforços para a melhoria da governação da zona euro.

“Agora estou mais preocupado com as ameaças à integração europeia, que têm a origem em nacionalismos e populismos que crescem em muitos países”, explica Mario Monti. Questionado sobre se essa preocupação advém do surgimento de formações como o espanhol Podemos, o ex-primeiro ministro defende que este é um fenómeno que está a atravessar a Europa e que já está presente na França, Itália e até no Reino Unido.

Mario Monti acredita que o problema da Grécia não abalou a credibilidade do euro e que a opinião pública considerou que deixar o euro seria uma atitude arriscada em termos económicos, financeiros e geopolíticos. Para o ex-primeiro ministro a credibilidade saiu reforçada. Sobre o apoio ao referendo convocado por Tsipras, Mario Monti considera que o primeiro-ministro grego foi cínico ao promover essa ida às urnas, de tal maneira que encontrou, depois, um compromisso com a União Europeia e o FMI.

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O atual primeiro ministro italiano, Matteo Renzi, defendeu que a “a austeridade da União Europeia falhou”, referindo-se ao problema da Grécia que dominou as preocupações europeias no verão. Mario Monti concorda com a determinação das reformas estruturais do primeiro ministro. Defende contudo que as políticas de disciplina e equilíbrio orçamental não são sinónimo de austeridade, antes funcionam como uma ferramenta que permitirá que as gerações futuras não fiquem sobrecarregadas com o pagamento de dívidas gigantescas. Para Monti, só “se um governo pedir dinheiro emprestado para financiar planos de investimento sérios e úteis para a sociedade e a economia é que esse comportamento deve ser encorajado”. Para antigo primeiro-ministro italiano é necessário adotar mais medidas de crescimento, especialmente no sul da Europa, e incentivar o investimento público.

Já sobre os nacionalismos e questionado sobre o debate na Catalunha, Mario Monti respeita essa luta, acreditando que se trata de uma situação diferente, porque este “é um debate que tem tido uma evolução mais gradual do que outras formas de nacionalismo que têm surgido na Europa”. Acrescenta ainda que a Catalunha tem sido um apoiante e não uma adversária para a integração europeia.

Sobre a situação espanhola, Mario Monti revela-se confiante e esperançoso, defendendo que, depois de uma crise muito dura, a Espanha tem vindo a aplicar melhor as reformas estruturais, especialmente no mercado de trabalho, rematando que apesar disso ainda é necessário empenhar-se mais no que diz respeito à disciplina fiscal.