As negociações têm tido climas diferentes mas têm também objetivos diferentes. À direita, o PS negoceia a viabilização de um Governo PSD/CDS e a aprovação de apenas um orçamento, o de 2016, à esquerda a negociação é de um compromisso para um governo liderado pelo PS para quatro anos.

Carlos César respondia aos jornalistas sobre as palavras do primeiro-ministro Passos Coelho, mas acabou dizendo que o que está em causa é, no máximo, a aprovação do Orçamento para 2016. Se o primeiro-ministro não quer governar com o programa do PS, “o PS também não quer apoiar um governo cujo programa que não é seu, que é do PSD e CDS. E que que não contemple as matérias que o PS considera determinantes ou mais emblemáticas, para que possa dar esse apoio quer numa primeira fase na constituição do governo, quer na aprovação do primeiro orçamento“. E só. O presidente do PS não admitiu mais do que a aprovação de um orçamento quando falou das conversas, que parece estarem à beira da rutura, entre socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos.

Nas negociações com PSD e CDS, o PS coloca-se na posição de viabilizador de um governo e não na posição de partido-base para que ele se forme. O mesmo não se passa à esquerda. António Costa considerou os encontros com PCP e BE positivos e estabeleceram-se equipas técnicas para que os três partidos chegassem a um entendimento para um Governo alternativo, liderado pelo PS. Como? Ainda não é certo se haverá acordo ou sequer se este será para um apoio de PCP e BE a um governo minoritário do PS com um acordo parlamentar, se há a possibilidade de PCP e BE irem para o Governo.

Mas sabe-se que a base de partida do PS é um acordo para quatro anos. Fonte das negociações disse ao Observador que viabilização de um ou dois orçamentos por parte de BE e PCP “não basta”, é preciso “um acordo para a legislatura”. Para já, a mensagem que os socialistas querem fazer passar é que não cedem num acordo estável para a legislatura, não se percebendo no entanto se não podem ceder num acordo para vida de um Governo mais curta, dando assim tempo aos partidos para se prepararem para eleições legislativas antecipadas.

Costa tem insistido na ideia de que o que anda a tentar é formar “um governo alternativo” que seja uma “solução estável, credível e consistente, que exprima a vontade maioritária dos portugueses de que haja uma mudança de políticas do país e é nesse sentido que tenho estado a trabalhar”, leia-se, para uma legislatura.

Mesmo que para a coligação PSD/CDS o que esteja a ser tentado seja um acordo mais duradouro, do lado do PS as declarações de Carlos César e de outros responsáveis parecem indicar que, no máximo, o que está em cima da mesa é apenas a entrada em funções do Governo e o não chumbo do Orçamento para 2016. Uma solução destas poderia dar à coligação um horizonte de um máximo de um ano de governação, até à negociação do segundo Orçamento do Estado, isto se o PS não sinalizasse na primavera uma posição contra no Programa de Estabilidade (o documento que desenha a base dos orçamentos dos anos seguintes).

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