“Era incapaz de vestir aquilo.” Esta frase parece-lhe familiar? Se pensar nos desfiles das semanas da moda mais famosas do mundo como Nova Iorque, Milão, Paris ou Londres, talvez sim. Mas o mais provável é que ande mesmo enganado, se pensa que aquilo que passa nas passerelas não influencia em nada as nossas escolhas. As roupas que escolhemos são mais inspiradas nesses desfiles, do que aquilo que achamos. E é a matemática que o prova.

Um grupo de investigadores de Taiwan, em colaboração com a Universidade de Rochester, em Nova Iorque, desenvolveu um modelo matemático capaz de medir de que forma é que os desfiles de moda influenciam a forma como nos vestimos no dia a dia, conta o El País. O grupo de cientistas construiu um sistema que permite a um computador detetar quais as tendências de moda de rua. Como? Utilizam algoritmos que identificam as partes do corpo humano — tronco, braços e pernas — e ainda as diferenças das características de vestuário, tais como a cor ou textura, ou se é uma saia, um vestido ou umas calças. O objetivo foi construir uma ampla base de dados.

A partir daí, o computador faz uma radiografia ao que as modelos utilizam nas passerelas e uma radiografia ao que as pessoas no dia a dia. O estudo intitula-se “Quem são os diabos que vestem Prada em Nova Iorque”?, numa clara alusão ao filme O Diabo Veste Prada, de 2006, com Meryl Streep.

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A experiência tomou como exemplo as semanas da moda de Nova Iorque em 2014 e 2015 e o que as pessoas utilizam na rua, na temporada seguinte. As diferenças eram muito poucas. “Não são roupas exatamente iguais, mas as cores, as larguras das saias, o calçado coincidem”, dizem os investigadores.

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Os estudos permitiram concluir ainda que as maiores diferenças eram justificadas pelas questões climáticas e não pelas opções de moda e explicam, por exemplo, que o verão de 2014 foi o mais frio da última década em Nova Iorque, de tal modo que as pessoas utilizavam roupas mais quentes, com inspiração nos desfiles da temporada anterior. No ano seguinte, as pessoas usaram cores brilhantes quer nas partes superiores e inferiores, embora só estivessem na “moda” na parte de cima.

As tendências de moda são de facto uma referência para o tipo de roupa que as pessoas vestem, tendo uma influência significativa nas suas vidas, consideram os investigadores, que relembram que só mesmo esses fatores externos, como o clima, podem alterar essa regra.

Qual a importância deste estudo? A investigação pode fornecer dicas para a indústria da moda, já que a fórmula matemática permite avaliar a maioria daquilo que as pessoas utilizam. Um co-autor do estudo, Kezhen Chen, realça que “a ferramenta ajuda os fabricantes a adaptar-se às cadeias de fornecimento”. “Isto significa que, no futuro, as lojas podem atender à demanda de um estilo que se está a tornar popular através de um registo de computador”, acrescenta.

Embora possamos achar que nada nos liga à indústria da moda, a verdade é que para que determinado vestuário ou produto chegue até nós, alguém o teve de seleccionar antes. Os especialistas de moda são um exemplo. Por isso já sabe, talvez aquilo que traz vestido hoje já tenha mesmo desfilado em Nova Iorque.