A resistência do parasita da malária (Plasmodium falciparum) à artemisinina – o único medicamento existente para o tratamento da doença – tem crescido no sudeste asiático. Mas se estes parasitas conseguirem infetar as espécies de mosquitos africanas, a resistência à artemisinina pode espalhar-se a outras regiões do globo, alerta a equipa de Rick Fairhurst, investigador no Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Estados Unidos), num estudo publicado na Nature Communications.

Os investigadores permitiram que duas espécies de mosquitos asiáticos – Anopheles dirusAnopheles minimus – e uma espécie de mosquito africano – Anopheles coluzzii – se alimentassem de sangue infetado com parasitas resistentes (e não-resistentes) à artemisinina isolados de doentes cambojanos. Em quase todos os casos, os mosquitos foram infetados – os parasitas foram encontrados nos intestinos e nas glândulas salivares.

Este trabalho não permitiu perceber se os mosquitos africanos infetados com as formas resistentes do parasita podem infetar humanos. No entanto, demonstrou que os parasitas têm potencial para infetar outras espécies de mosquitos espalhando-se a outras regiões. Parece assim que é grande o risco de que estas formas resistentes cheguem a outras partes do globo, comprometendo os esforços de erradicação da doença.

A descoberta da artemisinina valeu este ano o prémio Nobel da Medicina a Youyou Tu, membro da Academia Chinesa de Medicina Tradicional. O medicamento tem-se mostrado muito eficaz, apesar de já ter mais de 30 anos, mas continua a ser o único medicamento contra a malária o que constitui um problema grave em caso de resistência dos parasitas.

No Cambodja, a resistência à artemisinina tem aumentado, com a agravante de que os parasitas resistentes parecem ter maior potencial de transmissão. Além disso, na região do rio Mekong existem várias espécies de mosquitos Anopheles que podem transmitir o parasita aos humanos, incluindo os parasitas resistentes.

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